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quinta-feira, 31 de julho de 2008

ARDIL ===================


Cuidado...
O amor
Cheio de si,
Sempre convicto
Corre perigo.
A paixão
Planeja
Ardentemente
Insatisfeita
Ser feliz
Noutros braços.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

FRANCISCO HOOD, o vereador ======


Quando enfim tomou posse consagrado pelas mãos do povo nas urnas, sua estória humilde uniu-se a História daquela gente.
Do nada elegera-se Vereador. Sabia ter sob controle inúmeros destinos. Intencionava por isso dar-lhes dias melhores. A cidade ainda que pequena no tamanho vivia enormes problemas.
Considerou que a "Casa do Povo" seria o lugar propício para o debate. Por diversas vezes fez uso da tribuna denunciando mazelas de toda sorte. Todavia, justo nesta hora muitos davam as costas a fazer ouvidos mocos, senão saiam para um cafezinho no gabinete.
Siglas partidárias nada significavam naquela Câmara. Falsos trabalhistas, conservadores apiedados, deturpados ecologistas formavam bancada. 
Oposição de um homem só, seu sonho de mudança colidiu com o jogo político. Tinha as mãos atadas e jamais aceitara cartas na manga... Os debates resumiam-se em cochichos nos bastidores.
- Sem veto. Passa uma lei do nosso partido, agora. Mais tarde Sua Excelência sanciona um projeto teu. Qual pecado há nisso?  Você não queria ônibus... Casas? Nós também, mas tem que ser com a nossa Empresa. Um interesse seu pelo nosso!... - Sibilou entre dentes o líder das forças nem tão ocultas assim.
Avaliava os riscos... Desafogou o nó da gravata. Quanta vilania usar desse modo a máxima de São Francisco... Talvez blefasse. Sentiu-se um Robin Hood, que barganhando dos poderosos daria aos carentes. Teria portanto, as mãos limpas.
- Depois, o Prefeito vai saber demonstrar gratidão. Te ajeita num cargo. Não é pra qualquer um... Tá na tua mão!
E caso alguém descobrisse?... Seria a ruína!! Defensor ferrenho das CPIs teria uma no encalço.
- De que servem os advogados? Pára de ser do contra. Todo político que se preze tem processo na Justiça. Sendo de qualquer jeito inocente desacreditado ou popularmente culpado. Nas próximas eleições, o povo sabe reconsiderar... -  A causa justificaria os meios... Selaram o acordo num aperto de mãos.

terça-feira, 17 de junho de 2008

TESÃO ORIGINAL ==========

Adão jamais pecou
Ao aceitar a maçã,
Tal fruta doce
Nasceu pra ser comida.
Foi declarado inconstitucional
Tomou algo que Jheová
Nunca quis dividir consigo.


Sua incontrolável serpente,
Contrária ao seu jeito inibido
Manifestou-se num sonho proibido.
Descobriu uma passagem perfeita
Bastava uma mordida,
Entre a argila soberba do artista
E o pudor público da santidade.
Roçou a alma,
Tirou-lhe um suspiro
Ao colocar de quatro a pudica Eva,
Fruto oferecido.

sábado, 2 de fevereiro de 2008

MELIANTE ================



Pode ser que tivesse algum nome, além do "meliante" anotado pelo policial num registro. Fosse mais que a elaborada descrição para indigentes nas lacunas do relatório: mulato, 15 anos, carapinha, 1,60 de estatura.
Jamais transpusera as fronteiras do bairro no qual viveu. Universo vasto daquela ínfima existência. Embora, nestes breves quinze anos ousara ultrapassar os limites. Não tão maior que o confinamento na jaula invisível da periferia. Limbo incrustado na cidade, onde o presente se repete num cotidiano round virtual de fliperama.
Ali compartilhou entre um trago e outro do cigarro proibido suas débeis razões, seus frágeis ídolos das paradas de sucesso. Que faziam dele um igual e diferente na mesma medida. Nessas viagens desgovernadas rumo ao nunca, sonhos e delírios abriram-lhe a larga porta do crime...
O policial finalmente preencheu o formulário. A todos parece suspeito... Juntam pessoas aos seus pés a rodeá-lo. Atônitas vendo-o estirado por seis balaços, o sangue escorrendo pela calha da sarjeta direto para o esgoto. Aborto tardio expelido das entranhas desta pátria madrasta.Viraria macabra notícia, seu sorriso infantil numa foto 3X4, como legenda as iniciais maiúsculas nas linhas miúdas do jornal. Fama sórdida dos desvalidos. Numa espécie de "era uma vez...", onde finda a estória sem ser.

INSCRIÇÃO PARA UM QUADRO DE FOINA ======


Ergue teus castelos nos ares
Sonhos sobre palafitas,
Que tudo lá fora
Transparece liberdade
Numa redoma de vidro.

Hhusayn =================


Hhusayn sabia ser a mesquita o único lugar, até aquele momento, protegido dos bombardeios americanos. Acuado buscava guarida nas paredes de mármore esculpido, descanso no granito escuro da laje fria. Enquanto o sol dos mísseis explode fulgurante noite adentro e a sirene anuncia nos quarteirões o serafim da morte.
"Vinde para a prosperidade." - Recitava o muzaim. O rebab entoa convidando evadir sua alma do corpo. Há muito perdera sua fé a despeito de toda tradição familiar. Por que as dádivas de Alá eram nada sob o fogo inimigo? Parcimônia para a ira de Saddam. Fazendo das ruelas ao amanhecer deserto de escombros, chamas, regurgitando corpos famélicos das ruínas. A tornar ele próprio um estrangeiro...
E tendo-se afugentado os passarinhos entoam as mães seu choro palro a socar o peito. Numa terra devastada de um deus refugiado no oásis celeste. Dirijem-lhe orações, cada combatente a pedir que Deus esteja do seu lado. Uns pelo Islã, outros pela "Liberdade". Porém, este a tramar diabólico favorece quem bem entende.
Hhusayn olha do pórtico incólume os rolos de fumaça sobre Bagdá, quando a brisa prende à coluna um dos muitos panfletos lançados propondo "a pax do império yankee".


sábado, 26 de janeiro de 2008

ANTIQUADO ===============


                    Enquanto o divino maravilhoso
                    dá picos de audiência
                    e o auditório em delirium
                    aplaude aqueles que se merecem,
                    com sorriso que escancara o mau hálito
                    para quem a fedentina não tem cheiro.

                    É a mesma juvenília infelicíssima,
                    rebentos duns antiquados insatisfeitos.
                    Que na pantomima da rebeldia
                    veste-se feito um bobo palhaço,
                    assim que armam o picadeiro.

                    Juventude lamentável:
                    seus paus pequenos,
                    de seios michos
                    e ralos pentelhos.
                    Desgarrada legião perdida no tempo,
                    inimiga de si própria
                    que muito esperneia
                    mas, ainda não reclama ao que veio.

                    Podem me vaiar... Seguir a clack!
                    Longe de mim querer lhes dar algum conselho.