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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

RUÍNAS INTRANSPONÍVEIS =====


Nesses descaminhos do amor
que nos une a solidão
paisagem de escombros...
Lascinantes lembranças -
Teu sorriso glacial
Esse olhar frio
Nossas duras palavras
Minha lágrima contida.


LINDAURO ================


Quando conhecí Lindauro este muito me lembrou as disformes personagens da Literatura. Os deformados carismáticos criados por victor Hugo, Paer Lagerkvist e tantos outros. Destas misturas singulares compostas de meiguice e rusticidade.
As feições judiadas pela natureza, ou melhor dizendo, pelo coice de uma mula barranqueira na infância dava-lhe aquele aspecto abaulado. Seu falar um tartamudeado de sons, palavras dissonantes que ele utilizava como conversação. Não entendia-se bulhufas, o diálogo era deduzido. Ao comer percebíamos a confusão de dentes que tornou-se sua boca dilacerar os nacos de carne. Se pilheriavam dele, incapaz de contestar, ria bisonhamente de si próprio.
Mas, Lindauro em nada demonstrava desgosto. Dia após dia emergia dos entulhos da obra para o trabalho com um tremendo vigor, capaz de mover montanhas. Invejei-o diversas ocasiões. Jamais ouvi reclamos seus. Pois são felizes os parvos, rebentos imunes aos dilemas existenciais. Seguia cordato o roteiro que Deus fizera para ele.
Depois de uma semana árdua punha a melhor roupa, indo perambular nas portas da zona de meretrício atrás da felicidade. Que ele sabia colher por baixo das peças íntimas das prostitutas.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

OPOSTO ==================

             Nunca fui de dizer não.
             Achava que outros precisassem da concordância
             Que eu colaborava pensando positivo.
             Porém, alguns começaram a usar o meu sim
             Em proveito único
             Longe dos nossos interesses
             E a colocá-lo na minha escrita,
             Tornar minha vontade
             Soletrando ao meu ouvido.   
             Então... Eu disse de uma vez, que valesse por todas:




    '- NÃO!'

SAI, CAPETA! =============

Pastor Augusto sempre orgulhou-se do seu Ministério. Inflamado citava trechos da Bíblia durante o culto em esconjuros pela devassidão moral reinante. Dizia-se estar possesso de um espírito (santo) bom...
- Irmãos, acreditai, esta é uma igreja de milagres e prodígios. Aqui, abençoados... O inimigo sai por bem, ou por mal! Amém? - Ao que rumorejaram pela audiência "Glórias, Deus", "Oh, maravilhas, senhor!" e "irmãs" a falar numas línguas estranhas.
E discorria sobre as curas de que era capaz por intermédio de Deus. Coluna desviada, dor de estômago, bronquite, reumatismo, obesidade etc. Aqui e ali besuntava óleo consagrado nas feridas. Há quem dissesse que além de Pastor, o homem era formado em farmacologia com um pé na medicina. Tudo por dízimos módicos cujas dívidas Deus saldaria em dobro. Falava mesmo em juros e correção.
Havia ainda curas sobrenaturais: homossexualismo, falências comerciais, impotência sexual e mais etc. Seja qual fosse a obra do Capeta, Pastor Augusto era a profilaxia dos males cotidianos. Sua especialidade consistia, sendo também o clímax das reuniões, o pega-pra-capá com as hostes demoníacas.
Outro dia baixou lá um Exu, desses bem tinhoso dizendo-se porta-voz de Lúcifer. O exorcista não se fez de rogado desceu a "mão divina" no idoso, que servia de "cavalo" ao guia:
- Sai, Coisa-ruim, deste corpo que não te pertence! - E tome porrada, aleluia, porém nada... Aflito e temendo por sua reputação perante a congregação, Pastor Augusto cobriu o Exu de pancadas. Sendo este socorrido às pressas ao hospital...
- Saiu em nome de Jesus!... Sim ou não? - Confessou aliviado. O Diabo fora embora, todavia deixara o fiel com duas costelas quebradas e traumatismo craniano.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

HABANERA ================

                            No céu ambíguo da íris destes teus olhos,
                            duma lua incrustada em negros abismos
                            orbita um tanto jóia no céu,
                            diluída um pouco no mar.
                            Transparece sensual mistério
                            quando tuas idéias andam nas nuvens
                            e a palavra geme na tua boca,
                            sopra a brisa do teu hálito
                            cálidas confissões.
                            A aragem revolve teus cabelos
                            labaredas crepitantes
                            atiçadas pelo ar.

                            Admirador da tua natureza intempestiva
                            deixa-me apaziguar
                            os vulcões dos teus seios,
                            o sismo que provoca tuas ancas.
                            Cataclismas em que minha alma desfalece
                            pero, la muerte dulce nos teus braços.

SIFRAN & Co. =============

(Sala da Financiadora. Notas fiscais, cartões clonados por toda parte. Dr. Sifran fuma seu charuto importado.)

SIFRAN: (Ao celular) Escuta... A jóia que te comprei é tão linda... Se custou caro? Ninharia perto do teu valor. (Batem à porta) Estão me chamando. Ligo mais tarde... Entra!
FIRMO: (Pescoço enfiado na abertura da porta) O Sr. tem um minuto pra mim? Queria lhe falar.
SIFRAN: Time is money, Seo Firmo! (Ri do seu lugar comum) Diga lá.
FIRMO: Sem rodeios... Eu gostaria de um aumento.
SIFRAN: Só isso! Nada menos?... Economizastes nas palavras.
FIRMO: Serei pai de novo, Dr. (Ri econômico) Vem mais um herdeiro por aí.
SIFRAN: Vejo que o Sr. prospera no quesito multiplicai-vos.
FIRMO: Oh, chefe... Assim o Sr. me encabula.
SIFRAN: Você sabe que a empresa não está lá essas coisas. (Larga uma baforada no ar) A política monetária do país... Esta crescente inadimplência... Aumento nessas circuntâncias fica difícil. Mas um empréstimo, talvez fosse possível. Sujeito à consulta, é claro...
FIRMO: Veja bem. (Engasga com a fumaça) Empréstimo, patrão?
SIFRAN: Sim! Daria pra comprar o enxoval, o carrinho do bebê, um berço bacana... Desconto em folha por 03 meses.
FIRMO: Três meses!?
SIFRAN: Minha professora de faculdade dizia, "quanto mais tarda, mais caro se paga." (Apanhou uma das muitas calculadoras ligadas) Digamos, 02 mil... Metade dos juros usuais. O que acha?
FIRMO: Que remédio, não é?
SIFRAN: Portanto, meu caro, remediado está! No final do expediente lhe passo o contrato.

(Cabisbaixo, Firmo fechou a porta atrás de si.)