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quarta-feira, 29 de junho de 2011

V(I)ADO!... =============


                               A áspera língua do macho
                               que te insulta ser camaleão,
                               reconhecido malogradamente
                               efebo enrustido.
                               Sexo inverso,
                               subjuntivo eufemismo
                               a viver na sodoma deste imoral
                               gerúndio bíblico.
                               

ZOOlógico! ==============

A van lotada de turistas estacionou junto a entrada da favela. Vinham para um tour em regiões carentes do Brasil. Turismo sombrio surgido como maneira de desmistificar o universo de violência social de morros e favelas. Ou seja, nossas mazelas passaram a ser o atrativo turístico para visitas de estrangeiros. Num passeio exótico para matar a mera curiosidade. Rota daqueles que querem obter prazer com a desgraça dos outros.
- Gravar pessoas menos afortunadas que vivem em condições de pobreza, é macabro! - Dizia um desses participantes para um repórter de jornal.
Uma vez liberado o acesso pelo "patrão" da área, o grupo de turistas embrenhava-se numa incursão nas vielas do morro. E nada de vida cotidiana bem sucedida como atração do pacote turístico, rejeitam uma feijoada na casa de Dona Áurea ou visita a Escola de Samba da comunidade. Interessava o sórdido peculiar. Logo mais havia sido agendado uma sessão de fotos com o pessoal do tráfico. Os gringos numas poses com os trabucos, tudo "pagando" de Rambo, de tanto armamento "na fita".
Alguns meninos brincavam pelos becos de polícia X bandido.
- Que coisa incrível! - Exclamou uma turista entre maravilhada e temerosa. Ali poderia estar o pivete que lhe assaltaria a bolsa na orla. Entreabre uma porta de madeira remendada e depara-se agora com alguém largado a própria sorte, a agonizar tomado pela enfermidade.
Sob incontáveis clicks fulgurantes das máquinas fotográficas assistem o bailar febril de uma mocinha semi-desnuda e riem-se do maluco típico do lugar.
- Que contentes eles são! Duma alegria encantadora... Muito bonito!!
Mais adiante populares socorrem um baleado e por um momento interrompe-se o tour... Mas dali a pouco tudo volta à normalidade.
Ao largo a paisagem exatamente como mostram nos cartões-postais.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O SAMBA IRREAL DE CADA UM =====

Eu agora sou feliz!
Posso comer bem,
Sem queixas me divertir.
Obeso mui contente
Sorrio, ainda que um riso de dor.
Desse sentimento involuntário
Que nos dói latente...
Toca o barco, que é por aí!
Gente, chegou o circo
"Quem chora, tem que rir!"
O pão nos sobra...
O que nos falta?
Tropeçar no pinico - Shiiiii!!
Se todos querem
Porque não vou eu rir:
Rárárá!
Deveras,
Sobretudo...
Meu ímpeto de viver, contudo
É mentira!
Lá no fundo, 
Eu sei.

Tá certo, é demais muito correto.
Pra ocasião não tenho terno
Mas, de malandro consigo me vestir.
Me empresta então uma viola,
Um samba-do-criôlo doido
Que eu vou por aí:
Lá, ia, lá... Ziriguidum!
Meio cantando... Vivendo
Você sabe,
Pra nota existir.

O DESBASTE DA SERRA ELÉTRICA =====

A rotina dele era aquela, cuidar da família. Zelar pelos bens que mais tarde a esposa usurparia, conforme a cláusula do contrato de casamento especificava.
Feitosa sempre fora um tanto acabrunhado, sem jeito com as mulheres. Feio até. E foi na cama duma estreaper, agora conjugue de papel passado, que sentiu-se aceito. Por isso mesmo devotado escravo daquele matrimônio incomum. Ela passional ao extremo exercia a autoridade com mão-de-ferro.
Ele comumente saía às pressas do trabalho, precisava tomar conta dos filhos para que a mulher desse expediente numa boate. Não tomava decisões sem a sua expressa autorização. A tudo servil tornou-se adepto da causa feminista. Num temor por tudo em desagradar a mulher.
Feriadão!... Decidiram ir ao sítio da família. A idéia não fora de toda má, ele estava mesmo relaxando, as crianças em contato com a natureza, a esposa um tanto satisfeita... As instalações da granja necessitavam de alguns reparos e aproveitou a ocasião para fazê-los.
O som cortante da serra elétrica ecoou sobre a copa das quaresmeiras, ocultando o chamado dos tiês, o pipilar festivo das saíras. Mas, havia habitat natural que desestressasse a fera?... Porque ainda que com todas as tentativas de agrado, ela só abria a boca para reclamar.
- Tá pensando que é meu cafetão? Nossa senhora sabe quanto suei pra conseguir este sítio...
- E foi sozinha?...
- Não me contraria, porra! Sei o que tô pedindo. Que bosta é tu? - Tinha ela as garras afiadas e unhadas lanhavam-lhe o rosto.
Querendo vingança Feitosa saiu atrás da ingrata empunhando ameaçadoramente a serra elétrica. Esquivando-se de ser cortada ela corre aos gritos. Tomba a touceira de brejaúva inocente, um frondoso manacá deita barulhento entre a vegetação, estava prestes a cometer um crime ambiental quando... O longo cabo da extensão elétrica que utilizava soltou-se da tomada, desligando a máquina.
Não tinha jeito, ela desceu-lhe o cacete, sempre levava a pior.

sábado, 11 de junho de 2011

DIA DOS NAMORADOS =======

Sob postes sem luz
Vandalismo romantizado
Ocultando o bulir lascivo das mãos
A tatear de cor entre o tecido
Encobertos desejos desvelados.

A moral alerta
Por um momento cochila:
Mamãe assiste à novela
Na qual se sofre, e é feliz.
Papai aflito vigia da janela...
- Ela está se perdendo! -
Deliciosamente perdida

Nos bancos reclináveis, nos motéis
Transbordam camisetas, sutiãs,
                      índigos, saias,
                      cuecas, calcinhas,
                      camisas-de-vênus...
                      Furor dionisíaco!

Antes porém...
Promessas comprometidas,
Mesmas mentiras juradas,
Coxas aflitas,
Braguilha descerrada.

Enfim,
Poema de sussurros enamorados.

AMOR SEM MALDADE ========

Durante algum tempo nenhuma palavra disseram. Também fora assim outras vezes. Todavia, não como aquele instante em que tudo era unilateralmente decidido. Porque não havia nada a se discutir numa convicção. Por quanto, ele tentou agarrar-se aos restos que sobrara...
- Toma... O teu anel.
- Por quê? Foi presente meu.
- Leva contigo...
- Fica com ele!
- Melhor não.
- Um a recordação nossa.
- Pra quê?
- Lembrar, talvez.
- Não quero!
(...)Entre ambos ruínas intransponíveis. Burocrática intimidade: beija-mãos frígidos, requerimentos pra se tocar na verdade. Deveras, naquele gesto estúpido. E a mea culpa que lhes cabe.
Solícitos entretantos:
Passar bem... Talvez chova.
Preciso ir, acho que já é tarde!
Em tais diálogos que se estendem rancorosamente (quase) mudos, só pode haver sólidos pareceres de quem amou sem maldade...
Ela então pegou suas malas, deixando tudo desarrumado e foi ser feliz pra sempre.