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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

HOMONORMALYS ============


Ele se considerava
Um cidadão acima de qualquer suspeita.
- Caro, Senhor!
Que é isso!? Não fumo
E nem bebo...
Nenhum vício. - A seu juízo.

Demais nunca amo,
Prefiro não correr tamanho risco.
Honesto enriquecido
Com as contas às vezes me engano, me desculpe!

É... Tenho um voraz apetite,
No meu café apenas substituto
Que adoce minhas palavras.


Sou feliz, sobretudo
Me ensinaram a sorrir.
No impossível
Deposito minha fé, 
Não fosse essa miopia...
Mal enxergo as coisas.
Vai ver, é da idade!

ARQUIVO MORTO ===========

Uma vida inteira dedicada ao trabalho. Empregara-se como escriturária, entregue servilmente a rotina dignificante crente de cumprir o seu papel.
Todavia, nunca galgara maiores postos no setor público, apesar de diplomada em duas faculdades. Os melhores cargos sempre ficavam  praqueles outros envolvidos em arranjos partidários. Contudo, a língua não lhe obedecia contrariar, faltou-lhe o apadrinhamento político.
Agora, numa tardia constatação viu-se diminuída frente aqueles anos todos. O que era tornar-se uma ex. Ela não se distinguia alijada da conferência de documentos e arquivos.
Dona de uma figura pouco interessante, cujos méritos consistiam em destrinchar o trâmite burocrático. Era dada a fantasias românticas compensatórias. Nutria pelos colegas de repartição um amor ultra-secreto. Eles a rigor iam pra cama com todas as descompromissadas e algumas infiéis, exceto ela. O que fizera dela uma solteirona, menos por convicção do que contingência...
"Por que me deixei enganar? Só servi para favores... Nojentos! Depois desdenhavam de mim, sem me dirigir palavra. Malditos homens, seres cheios de fraquezas!" - Pegava-se dizendo para si mesma. Ensimesmada naquilo que acontecera. Estabelecidas frouxas relações de amizade, ninguém lhe era íntimo. Nenhuma parte dela havia no mundo... Quem usufruiria da apólice de seguro feita?
- Ganhaste a sorte de não fazer nada... - Insinuou o Diretor do Departamento certa inveja dissimulada, durante o aperto de mão ao parabenizá-la pela merecida aposentadoria.
Sua despedida se deu quase no anonimato, a não ser por três ou quatro assinaturas numas vias coloridas. Ela já não consta mais na lista de aniversariantes do mês. Era como se tivesse morrido. Ninguém lembraria dela.    

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

GRAFITE =================



Nestes rabiscos
Com os quais me declaro,
Grifo.
Substantivo cardiáco
Trespassado por maldade,
Amor irremediavelmente
Infartado.


A FÉ INCENDEIA MONTANHAS =====

Descrente das campanhas evangélicas e de ser tiéte de padres artistas, Bárbara decidira voltar as raízes religiosas da ancestralidade afro-indígena.
Sua fé renovada resolveu apelar para algo mais ligado às forças da natureza, por contemplar o sentimento ecológico vigente.
Conselheiro, Dr. Honoris causa das doutas ciências esotéricas & afins, recomendara um trabalho na mata.
Pouco antes da meia-noite, acompanhada de Conselheiro e dois jovens "cavalos" necessários para a cerimônia, embrenharam-se no mato a fim de fazer o despacho.
Servida a ceia eucarística com farofa e uns bons cálices duma garrafada de raízes visionárias, Bárbara acendeu tudo quanto é tipo de velas para o guia de luz. Caboclos, caciques, enxergavam perfeitamente a nudez da pomba-gira naquele lume. Enquanto ela saracoteava febril, tomando passes buliçosos e entregue aos delírios do ménage espiritual. A lança guerreira e o tacape rijo invocavam na noite gozar as dádivas terrenas... Saciados da incorporação divina largaram lá as oferendas como presente às entidades da floresta.
Pela manhã durante o café, surpreende-se com o plantão extraordinário da tv:
"- Interrompemos nossa programação para informar, que um incêndio de proporções alarmantes, neste momento, põe em risco a Reserva Florestal do Teiú..." - O repórter abordo num helicóptero, mostrando as imagens do sobrevôo pela área queimada. Só foi o tempo de um exclamativo putz!... E Bárbara engasgar com o café.