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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

MÁXIMA POÉTICA ==========









Haver
Ou ter?
Porquanto
Haverá
Terás
A pedra
No
Caminho.




ATRÁS DAS GRADES ========

O que aquele detento contava decerto inspirasse desconfiança. Assunto retomado nas suas visitas naqueles dias à enfermaria. Numa espécie de testemunho desculpável da sua condição.
Corpulento, marcado de cicatrizes, tinha por volta de 37 anos... Falou um tanto da infância roubada.
- Lá no barraco faltava de tudo. Cama, feijão, pai... Minha coroa dava um trampo danado. Mas, dinheiro de pobre não rende. Caí pra rua. Sem ninguém por nós, a falta de freio... Já viu, né! A cadeia foi meu berçário, minha escola, e de alguns irmãos... Sério! - Assim ouvia-o ao sabor da consulta. O resolver por si mesmo, com a cara e a coragem pra vencer na vida, conforme ele mesmo disse.
- A pior privação é a fome... Eu comi o pão que o diabo amassou, que é a hóstia dos desesperados. Deus escrevia em linhas tortas pelos becos da favela pra gente endireitar... Aí, os caminhos se fecharam. - Alegou como um trágico destino do qual não pudesse escapar. - Quem nada tem, não tem nada a perder. Me meti em assaltos... Troquei tiros. Dei um bocado de trabalho!... A gente não percebe o momento que a coisa descamba.
Enquanto ele mencionava parte das desventuras da infância, eu me perguntei onde se perdeu aquela criança que chorava implorando pelo colo da mãe. O riso puro da inocência encoberta pelas maldades. Era a necessidade que o desvirtuava de anjo à categoria de demônio.
- ...Acho que passei mais tempo trancado do que solto. Queria dar a grande cartada pra me arrumar. Só causas perdidas... Eu seguia nessa contradição. Hora deus me abandonava quando perdia, estava comigo se vencia no crime. Salário de ladrão é o roubo. Poucos largam essa vida, parece maldição... - Dizia como a espera de um veredito favorável possivelmente, a motivar seu ímpeto de recuperação penal.
Embora, vez ou outra, meus contundentes questionamentos reforçassem a culpa, suas justificativas tinham o apelo dos arrependidos.
- ...Cadeia nunca foi hotel, mas sobra tempo pra matutar... Pro bem ou mal. Isso deixa um homem louco. É pendurado nas janelas do presídio que eu vejo a vida lá fora. Aqui nos isolam pelo que tanto temem, a solidão. E nos encarceram em meio ao tormento... Santo de tudo não fui! Se sou bandido, também o mundo me fez assim. Não foi a placenta da minha mãe e o pênis do meu pai. - Isto numa revolta contida, e depois silenciou ensimesmado.
Vindo dele quanto poderíamos confiar? Vê-lo com outros olhos e oferecer-lhe a benevolência do perdão... Mostrou-se satisfeito quando informei estar curado da virose.
- Sei o que pensam de nós... Para alguns, eu nem mereço esse remédio... Bastava apodrecer. - Provavelmente repetia sempre convicto seu álibi desacreditado. Afinal das contas o que valia era a pancada seca do martelo do juiz, o ranger do ferrolho da cela... A justiça feita.