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sexta-feira, 27 de abril de 2012

FORTUNA =================


                               Desidério
                               Puxa sua carroça de tranqueiras,
                               Não tem cavalo.
                               Só a si mesmo
                               E o lixo que lhe dá comida
                               A pedido da fome.
                               Quando rumina a praguejar
                               Aquela maldita sorte,
                               Contrária a ferradura
                               Pendente no pescoço.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

SÉRIE REPLICANTE =========



Ouviu um bip - "...Hora de recarregar as baterias. Algumas das minhas funções já estão em estado crítico..." - Recebeu o andróide aviso do Programa de Sobrevivência. Perto havia uma cabine com conexão elétrica, girou o plug no encaixe e o tênue campo magnético dos seus circuitos oscilou ionizado provocando ondas de elétrons. - "...Isto sim, é estar ligado à vida... Acionar Sistema de Armazenamento Suplementar..."
Além dos arranha-céus, sobre os out-doors holográficos, o ar denso e tempestades elétricas precediam o intermitente temporal de chuva ácida.
Ciborgue projetado para atender necessidades especiais, modelo de tarefas múltiplas incansável, catalogado em qualquer Seção de Arquivos Funcionais dispunham-no das maneiras mais sórdidas. Executor, como outros daquela série, de todas as tarefas rotineiras e de setores insalubres da produção, sua mera condição serviçal fazia dele uma máquina exótica. Virtualmente idêntico a um Ser Humano, porém sua essência carecia humanidade.
"...Se bem que, o funcionamento da máquina humana é uma vida de carências, que para evoluir e satisfazer-se depende do funcionamento do sistema de órgãos e a conservação do organismo..." - Apreendeu o humanóide de uma das definições programadas.
Novidade da evolução robótica suas lembranças eram implantes de memória humana, sexualmente castrado todo e qualquer comportamento mimético era pura ilusão virtual. Enquanto os Humanos tinham família, deitavam e entrelaçavam seus corpos, eles os humanóides vagavam pelos becos úmidos a comparar informações de sensações emotivas no seu banco de dados...
ALEGRIA sf. 1. Qualidade ou estado espontâneo de quem tem prazer de viver, de quem denota felicidade. 2. Contentamento, satisfação... - Seguido de diversas imagens de pessoas sorridentes: velhos, crianças, mulheres. Algumas vezes até tentou esboçar corporeamente tais manifestações, porém não fora programado, estava privado delas... O que havia de verdadeiro nestes implantes?
"...Adaptaram-me sensíveis circuitos receptores e decodificadores de gosto e aroma. Fizeram-me viver e sentir um mundo do qual não posso usufruir... Quem se esmeraria em produzir seres assim? Sem o que chamam de Alma para não despender nenhuma preocupação. Parece que lhes falta sentimentos... Só havendo o exterior pelo exterior em que diferem dos vegetais?... Dos robôs?
   

terça-feira, 3 de abril de 2012

ZOOn POLITIKON ==========










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                                                               PÚBLICA.


O BEM-AVENTURADO ========

Situação difícil!... Vinha manco pela rua, o chapéu inclinado na testa, cobrindo a aparência. Tudo quanto fez de esforços dera em nada, depois de ter perdido seu ganha-pão como camelô. Há semanas vivia ao relento sem sombra, nem residência, uns poucos pertences dilapidados.
O dono do cortiço onde morou não quis nem tomar conhecimento. Cada inquilino ali tinha sempre uma desculpa pronta, um tenha piedade pelo infortúnio, reclamava o proprietário. Se amolecesse o coração quem viveria na dureza seria o próprio.
- ...Ajudo a quem me ajuda. Se faço e você não retribui, fico eu no prejuízo. - Repercutia a voz dele em seus pensamentos, o quanto o homem se esforçava por parecer justo. - Também devo contas. Não posso contar com o "Deus lhe pague"... - Despejara uma família tendo duas crianças pequenas, não deixaria de fazer o mesmo consigo. Findo o prazo abertas estavam as portas da amargura.
Lembrou-se indubitavelmente do avô, ainda vivo em remotas recordações, costumava ilustrar os acontecimentos da vida por intermédio de sua filosofia proverbial.
- Nessa terra, rapaz... Cada um puxa a brasa pra sua sardinha. - Referindo-se ao egoísmo das pessoas abastadas. - Isso quando tem peixe no braseiro! Senão, cada qual pega dum lado da sardinha e quem fica com a espinha é o pobre... - Pilheriava o ancião... Viu-se transportado à mocidade na companhia do avô, sob a proteção da ignorância daqueles idos. - Rico quando morre a gente lamenta. Agora, o pobre nóis diz que partiu dessa pra milhor. Mode que se livrou das dívidas, de muito passar necessidade. - E ria sem maior rancor.
Essas vozes e visagens advinham do jejum... Tinha vergonha de si mesmo ao sabor da desgraça. Pedir esmolas seria seu último recurso, apesar do estômago reclamar oco de fome. Lá no íntimo relutava, não parecia nenhuma criança carente... Era somente sentar e estender a mão. Ouvira falar de mendigos que simulavam feridas nas pernas utilizando carne podre e toda sorte de artimanhas.
Dobrou uma esquina resistindo ao desequilíbrio da muleta, quando teve um mal-súbito e caiu desmaiado no alpendre duma portada.
Dali 2 horas recobrou os sentidos... Seu chapéu caíra, o borco pra cima. Dentro da copa dinheiro que os passantes haviam depositado em nome da caridade, pelo menos aquele dia.