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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

POEMA CRUEL ==============



        Vou...
        Não é justo
        me prenderes
        ao teu querer.
        Queres me amar
        de um modo
        que não quero sê-lo.

        Foste sequer
        razão do meu viver,
        incapaz de encantar-me.
        Posso passar
        sem você,
        não temo
        ficar só.



SOUVENIR ================

São 5 horas da tarde. Chove um pouco agora... Não tem feito sol ultimamente. O carteiro não entregou nada aqui hoje, nem mesmo telefonemas temos recebido. Esses latidos frenéticos que você tá ouvindo, é o cachorro do vizinho em frente. Estão voltando às pressas do passeio... Ele não é de se meter na vida alheia.
Por trás destas portas, entre quatro paredes, quem suspeitará do inevitável destino que nos une?... Você há de considerar meu desespero. Me perdoe a extravagância. Só quis perpetuar nosso relacionamento.
Não lhe dizia, a taxidermia consegue milagres... Realismo fabuloso! Vi uma onça empalhada num museu, ela parecia rugir... Você está com uma ótima aparência. Posso sentir pelo toque.
...Deu trabalho despistar a polícia, afastar os parentes preocupados. Dizem que depois do seu repentino sumiço, eu me isolei ferido de amor... Embora você parecesse cada vez mais distante, eu quero tê-la perto de mim.
Vilda, minha terna Vilda... Meu tesouro raro! Troféu da minha conquista. Você foi feita pra mim, querida. E por todo sacrifício posso apenas compensá-la com um presente especial... Não é maravilhoso este anel de noivado? Gosta?... Deixe-me colocá-lo no seu dedo... Perfeito!!
...Tudo que sempre desejei foi dividir meus momentos contigo, participar da sua vida. Jamais suportaria ficar sem você. Eu lhe dei o melhor de mim, Vilda. Ninguém há de lhe amar como eu amo...
Acredite, farei da nossa casa um lar agradável. Posso ler romances pra você, Vilda. Cuidarei das tuas plantas... Retocar tua maquiagem. Terei o privilégio de ajeitar a alça do vestido que escorrega pelo teu ombro, deixando descoberto tuas formas conservadas. E tomarei prontamente teu beijo embebido em formol... Nada lhe fará querer estar lá fora, ausente de mim... Nunca deixarei sentir-se sozinha, nem a terra fria vai lhe abraçar... O que importa é estarmos juntos, se tenho teu coração...
Prometo, o ciúme nunca mais vai atrapalhar nossa relação. Tá... Não me controlo. Sou possessivo com o que é meu, você sabe... Todos temos nossos defeitos. Alguém tem que decidir... Confessa, você vivia na dúvida. Então precisava de um argumento convincente. Não sendo de outro, seria minha.
Tive medo do abandono, não ser querido, sem ter outra metade... O amor nos faz cometer loucuras!
Deixemos disso, devo tê-la chateado... Acho que está na hora de preparar nosso jantar.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

EXPIAÇÃO ================


Criou-te
Astaroth
para que
morre-se
fervoroso devoto
em teus braços,
Adorável Sacerdotisa.
Iniciou-te
Ishtar
flagelar-me
com penitente
lascívia
de teus
carinhos.
Sim,
sou teu
holocausto.


TIGRESA LIBERAL, procura... =====

...O cliente se foi finalmente. Não estava mais a fim de companhia. Caso o telefone tocasse jurou não atender, inclusive desconectara a internet. Amanda andava cansada daquela vida de garota de programa. Seu corpo anseia por um banho, cremes, descanso... Pretendia largar tudo, insistia consigo mesma. Mas, tentava sem muita convicção convencer-se a mudar de ramo. Vida doméstica, ter um namorado sem assustá-lo com a sua profissão ou mentir à família.
Reconfortante a ducha fazia escorrer uma cascata morna de espuma precipitada de sua púbis... Temia contudo, Amanda, as pedradas da opinião alheia. Mudaria ela, e os outros? Desconfiava se a sociedade que cospe, é a mesma que quer lamber...
Aprendera utilizar o poder de uma buceta, provedora de tão convincentes conquistas. Comprara carro, pagava contas, diferente do que se ficasse à míngua na cidadezinha natal, vendo definhar num fundo de panela seus encantos. Cedo teria engravidado dum qualquer, presa a vontade do marido... Custeara a passagem pra Capital com a virgindade, sendo um certo vereador daquelas bandas o feliz cambista.
Os primeiros passos foram em boates e pegou rápido o tino comercial do negócio. Desde quando nascera o mundo lhe cobrara um preço. Quem falou que deus dá a vida? Ela é emprestada! Todos pagam a fatura, têm lucros... Sexo requer habilidade, a tabela de serviços oferecida nos classificados contemplava massagem, sexo oral, anal, kama-sutra, menáges, dupla penetração, sadismo, acessórios, fetiches, totalmente privê...
Não envergonhava-se da vida que levava, conversa de Delegado, moralismo de dona-de-casa, não garantia o sustento dos pais. O que seria deles sem o dinheiro que ela enviava? Suor do expediente na fábrica...
Findo o banho secou-se, fez da toalha um turbante e vestiu seu robe. Acendeu a metade deixada de um cigarro de cannabis, longas baforadas inundavam o quarto num fog translúcido coado pela luz do abajur... Seus dedos cavam no pote um creme que Amanda aplica à pele. As mãos asseguravam a rigidez da carne. Aquele corpo exausto a única coisa de valor que possuía. Carreira de prostituta era igual a de jogador de futebol... Bola pra dentro! Enquanto correm atrás de você, tá bom. Era aproveitar o auge da fama.
Sua universidade fora a vida, mas bem que merecia receber o diploma em psicologia, papel mais exercido atualmente. Convencera-se serem os homens uns inseguros, achando que serão sempre os prediletos da mamãe. Por aquela cama passavam estórias inusitadas, de quem menos se desconfia... Aqueles homens emergiam pelas dobras dos lençóis.
Vinha-lhe certo conhecido empresário, cuja mulher após acidente de automóvel vivia paraplégica numa cadeira de rodas. Apesar de contrafeito mantinha o casamento para não perder o direito à fortuna.
Às quartas-feiras, um excêntrico que só ia lá vestir suas peças íntimas e ser enrabado por um consolo negróide tamanho G, de 5 polegadas.
Houve um tipo que puxou conversa esquecendo o que viera fazer ali...
Queixas pelo relacionamento que levavam, compromissados com as mulheres ditas "direitas". Percebia haver um certo cinismo, como que para melhor ser atendido em suas carências. A maioria deles pensava que ela estava ali para ser confidente. Não os queria mal, só não conseguia sentir pena. Que mais poderiam pedir em troca?...
Ah, como ela preferia que fosse à moda antiga. Um martini, aquela pegação básica duma mão invasora por baixo da pouca roupa, o acerto de contas. O fulano chegasse e se aliviasse, as vezes dependendo do tipo até gozava durante a encenação.