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sexta-feira, 1 de março de 2013

EXÉQUIAS =================






Amei-te,
Morres em mim.
Dum passamento
Qual não consigo
Lamentar.

Seja então,
Neste peito
Tua cova
De profundis.





DEU BURRO NA CABEÇA =====



Assim que chegou foi conferindo os números do Jogo do Bicho, calcados em giz na tábua de resultados afixada numa parede lateral do boteco. Naquela esperança de que a sorte desse jeito ao seu destino, incrédulo daquela maré de azar.
Procurava a combinação perfeita da Milhar na cabeça:
1º -  4411  [Cavalo]
2º -  8157  [Jacaré]
3º -  2496  [Veado]
... - Pelo sorteio da Federal.
Vivia tentando acertar na vida, pagar as dívidas, satisfazer ao menos uns desejos... Sem resultado.
- Jogo ingrato!... - Ruminou olhando o volante manuscrito. Só dava a banca. Jogara: 0235... - Deus não dá asa à cobra, mesmo!
Outras loterias e promoções acenavam com a felicidade instantânea. Tirar a sorte grande em um cupom especialmente premiado ou a tão sonhada  casa própria numa embalagem de extrato de tomate... Era preciso perseguir a sorte. Dera-se bem algumas vezes, pois o mundo é um perde e ganha desde Adão e Eva.
Criava toda uma matemática de coincidências cotidianas e somas favoráveis dos eventos. Vislumbre de números cabalísticos ocultando a chave do tesouro. Sonhos premonitórios com todo o Zoológico do Barão de Drummond em polvorosa... Sua vózinha era sensitiva, passou o dom para Ele. Certas pessoas querem enriquecer e realizar seus sonhos. Enquanto outras iguais a Ele, usavam os sonhos para ficar rico. Mas, dinheiro de jogo parecia amaldiçoado... Vendaval nas mãos. Não comprara nada de seu, nenhum chinelo.
- Porra, Bicheiro!? Tu é um pé-frio fudido... Tinha que dar teu parente Burro?
- Deu Cavalo, seco no grupo... Seo jumento! - Retrucou lá de canto, assistindo ao futebol.
- Um burro metido a besta, trabalha pros outros da mesma forma.
- Não sabe cercar o jogo, mané!... Você que é burro de nascença: 03 de Setembro, às 10 horas da manhã!! As outras dezenas não são coincidência, não... É registro em cartório!
- Devo ter uma cabeça de burro enterrada no quintal de casa, isso sim...
- Bicho que você vê no espelho, e não joga... Burro não ganha mesmo! - Despejou pela goela a cerveja.
Os números não lhe saíam da cabeça. Uma placa de carro batido, a senha da fila do Banco... Fazia fé, uma hora a sorte chega. Não seria pedir muito, mas só a sensação de vencer...