# BLOG LITERÁRIO # POEMAS - CONTOS - CRÔNICAS #

terça-feira, 2 de abril de 2013

RESCALDO ================

                                                         
                                                     Queima meu peito
                                                     sob as cinzas
                                                     dum amor
                                                     mal-apagado.
                                                     Cria brasa
                                                     e novamente se incendeia
                                                     no fogo da paixão.



TACIATÃ AVAETÉ ===========

No princípio eles mangavam:
- Tá enrolando a língua por quê, Índia?... Fala direito! - Querendo civilizar Capotira.
Foi num lítígio de terras brasilis sucedido. Os fazendeiros, o garimpo, as madeireiras vorazes tangeram a tribo de suas tabas. Índio não merecia terra nenhuma. O chão pisado primeiro, nem a sua Reserva, seja a emprestada pelo branco. Era sempre expulso.
Mocozou-se ali com os turis, entre as malocas trepadas na beira do rio. Cercada duma gentama branquelada filharada da mandioca, mais os filhos do carvão por acá largados.
Já nem faz artesanato, colares, chocalhos, cocares com as cores da jandaia. Vive de biscate, de vender sorvete e tapioca. Catar ferro, plástico pras indústrias de reciclagem. As duas cunhatãs desafloradas a servir no acostamento da BR as vontades de carne duns caminhoneiros.
Na palafita brincava o pyá, fruto do estupro sofrido dum Pastor. Seria este o paraíso cujo missionário lhe prometeu?... Outros tingas foram lá, estudar índio, querer ser nativo, pintar a cara. Mas índio não quer sociedade de branco.
Se das andanças matuta, repouso no giral, afastava a mosquitada a fumear cigarros Hollywood remeninando a aldeia.
- Antes não via carro que nem agora. Corria onça, tapir, jacaré, tracajá, tatu embrenhado mato dentro... Eita! Assim fucinhando carro noutro nas costas da avenida cobrejando feito sucurí. - Contava as cunhatãs sem muito da língua nativa.
Difícil de acostumar sossego. Também não se anda nu. O peró trouxe a moral e a vergonha, vestes, presentes, bons costumes, doenças venéreas... Entregue ao cauim pestilento das biroscas, a caninha Pitú toma conta, queima barraco, descamba sururu e morte, pois findou seu companheiro espetado numa "peixeira".
Sumiram os pipilos, piados, cuquiadas, roncos, esturros da bicharada. Bem além das taperas urbanas gritavam buzinas, guinchos de engrenagens, o ruidejar das máquinas. Nalgum lugar atacava Piaimã, gigante comedor de gente nos seus domínios, sem ligança pro deus caraíba pregado na tábua.
Restou-lhe da floresta, a selva de pedra. Ficava jururu que nem sapo cururu em lagoa seca. Se nem podia mais passar o dia na rede mastigando beiju. Era um tal caçar em vitrines, prateleiras, balcões... Quem dera apanhar a gostosura dos cajás, cajamangas, jaboticabas, genipapos, sapotis, pupunhas, um naco de gosto bom da vida.
Quando o sol escurenta, Tainaçã vagalumeia arriba do horizonte de prédios vinha um desgostar, o desejo amargoso de subir pro céu num cipó.
- Brasileiros somos nós. Esses aí, gente que veio de Portugal. - Queixava-se as cunhatãs bronqueada mode a brabeza caraíba.