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terça-feira, 11 de junho de 2013

MIOPIA ==================





Amor à primeira vista...
Reparasse melhor
Não amava 
Quem cegamente amei.



PURA SORTE ===============

Como o povo dizia, os apartamentos ali construídos ao lado da comunidade não eram assim palacetes, muito por conta dos superfaturamentos da construtora, desvios de verbas da obra. Pois político é raça que manobra a gente!... Porém, em vista dos barracos apinhados tornaram-se a cobiça de cada família.
Largada do marido, para criar os dois filhos fez não sei quantos cadastros no serviço de ação social... Passara muitas tragédias, enchentes no bairro, os riscos de incêndios a se alastrar pela favela. Pra quem acha que o ruim pode ficar pior, os desabamentos do morro se repetiam, arrastavam móveis e vidas.
Quando ameaçava a chuva, a espera não vinha com romantismo. Nada havia de mistério nos relâmpagos, mas presságio. Não se distraía com a água despejando da calha. Não aquietava como os bichos, o vira-lata embaixo da mesa, os pardais nos "pés-de-cuca", o bichano no caibro da cumeeira... O céu desabava. As fotos da família carregadas pela enxurrada. O paradoxo de nada ter, e perder tudo! Deixava-lhe sem rumo e nenhuma cidadania.
Vinha a autoridade se condoía dela, punha numa fila de espera, depois retornava ao conforto do lar imune as intempéries da vida... Perdera a filha num desses ocorridos, ao tirarem do escombro o corpinho parecia uma boneca escangalhada coberta de lama.
...De repente como que por encanto, o homem anunciou seu número de senha ao microfone pra todo mundo ouvir. Ganhou o devido merecimento. Não lhe deserdara a sorte. Exorcizava a maldição da pobreza, a predestinação à ruína.