# BLOG LITERÁRIO # POEMAS - CONTOS - CRÔNICAS #

sábado, 24 de agosto de 2013

MENSURA =================






Amei,
Fui amado
Até me tornar
Odiado.
Das carícias
À hostilidade
Com a mesma
Intensidade.

O BASTARDO ==============

Foi após saber da morte de meu pai, é que me deparei com a carência que as outras pessoas sentem de consolo... Um tio preparando em tom solene informa, como a engolir uma palavra trêmula deixa escapar a notícia fatídica.
Tudo que fiz foi vasculhar vertiginosamente no meu íntimo por instantes, à procura de uma lembrança afetuosa dele dentro de mim. Pouco nos víamos, eu morando anos na Capital.
Esse parente ensaiou um abraço... Titubeou. Como a desejar chorar comigo a desgraça maior da perda. Via nisto uma maneira de aliviar meu pesar. Não existir me é estranho e temível, mas chorar está aquém de minhas necessidades. Mesmo espremido. Atado aqueles braços impotentes... Eu deveria dizer, "obrigado", por meu pai ter morrido? Calei-me num silêncio tumular. Então, se pôs a falar. Insistiu que fosse ao enterro salvaguardar meus interesses. Porém, aturdido quase não o ouvia.
Um domingo de Verão. Mormacento. Todas as coisas na atmosfera pareciam se dissolver... Meu último dia de folga. Sequer garantia uma desculpa no escritório. Quem sabe alegasse na Segunda-feira uma profunda depressão... O ônibus vai engolido pelos túneis da Serra do Mar.
Ele somente reconhecera a paternidade acossado pela Justiça. Quando quis me conhecer disse: "Você não deve ser dos meus. Parece fracote..." - O velho reprodutor oportunista. Assediador de "domésticas" em busca de um lar. Eu caí... E eu mesmo, me levantei.
Cheguei às pressas... No Litoral a umidade combinada às altas temperaturas castiga a carne humana. Toda a medicação inútil fermentava dentro dele. Podia sentir escorrer da minha nuca o suor. Velaram depressa porque naquele dia fazia calor. E o velho apodrecia.
A cabeceira do morto a distinta família. Dois meio-irmãos e a matrona viúva, uns agregados... Um limbo solene. De ambiente denso perturbava o olhar e as idéias.
A morte revestia o verniz dos seus erros. Um desses equívocos humano se movia sobre a terra... Já me olhavam como um inconveniente herdeiro, com direitos à mísera fortuna. Bastava saber que era um intruso. E talvez, estivesse lá só por isso. Para espoliar os restos mortais do velhote.
O corpo desce ao túmulo. Mais uma cova rasgada incerta na terra úmida, do que propriamente um lugar de descanso eterno. Sua família roga a prece convertida em pranto. Pelo terror do destino ilusório.
No entanto, nada de lágrimas por trás dos meus óculos escuros. O disfarce de uma tristeza aos olhares inquisidores duma platéia perplexa da nossa fatalidade comum.
Colocamos a sua lápide sobre tudo isso.