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domingo, 4 de maio de 2014

CRÔNICA QUINTA NA BIROSCA =====



Por que não ser querido?
Se feio não era,
Nem outra qualquer deformidade.
E ainda que contivesse
Aquela alma fêmea
A debater-se nas vestes masculinas,
Seu desejo entre iguais
Por sentir não o diferia...
Chorava suas mágoas num copo
On the rocks no seu caminho.
Malgrado todo esforço de ternura,
A mais "piranha" não competia...
Agarrou-se aquela máscula braguilha,
Salva-vidas de tamanho desespero.
O macho de saco-cheio
Pondo fim a relação
Encheu-lhe de sopapos,
Rudes carícias.
Mas, o hematoma era só
Uma marca aparente
Sobre a dor.  

"UM DIA DE CÃO!" ========

Odiava preencher relatórios, formulários. Explicar-se ao Delegado como um meliante, questionada sua conduta. Ser incriminado por aquela jocosa fatalidade. Alguém atrás de uma escrivaninha reconhece as dificuldades do trabalho nas ruas?
A cidade vivia agitada com alguns crimes. Os âncoras do noticiário policial em nome da audiência clamavam Justiça a todo custo. O Comando pedia resposta rápida, tolerância zero. Não se foge a responsabilidade.
Meu parceiro no meio do expediente tivera um desarranjo estomacal, ficou em observação no P. S. Por isso não me arriscava comer nada de ambulantes na calçada. Uma espécie de gentileza oferecida pela proteção dada. Nesse mundo cane é preciso ter estômago.
Por volta das 18:22 h., eu dirigia patrulhando já de retorno para o fim do turno. Caía aquela garoa fina, mesmo com o pára-brisa acionado gotículas cintilantes atrapalhavam minha visão, decerto o desembaçador funcionava mal. Uma voz feminina pelo rádio da viatura alardeava ocorrência.
No início do quarteirão à frente havia uma loja de animais, ia trafegando quando vi no estacionamento sair uma caminhonete vinho e o que parecia notas de dinheiro voando, o motorista desesperado por pegá-las... Como iria adivinhar que tinha sido o troco deixado sobre o painel!? Aquilo só me despertou suspeitas. Uma coisa é certa, nessa profissão a gente aprende, nem todo mundo é tão honesto quanto parece.
Fechei o veículo, então dei voz de prisão e o indivíduo de mãos para o alto, assustado abriu a porta... Saiu ligeiro de dentro um cachorro grande, maior que o normal.
O animal saltou com suas patas em cima de mim. Rodopiou. Fazia uns sons abrindo a bocarra, mostrando os dentes... Arrghhh!! Uf! Uf!... Au!! Au!! Au!! - Fora de controle. Era da raça Bernese, soube depois. Considerei hostil. Um único tiro. Soltou um ganido doído e caiu.
O tal sujeito uivava desconsolável, como se tivesse perdido um ente querido. Quis dizer-lhe, entre lá e compre outro... Eu pago! O que deu nele? Sentira odores estranhos da minha colônia vencida, ficando excitado sob o efeito anestésico para o tratamento dentário?
Nunca passou pela cabeça colocar a sociedade em perigo. Apreenderam meu revólver. Agora olham para mim com essa cara de poucos amigos... Mas quando o "bicho pega", querem me atiçar contra os outros. Me pergunto se deveria recorrer aos cães para ter um amigo fiel. Acho mesmo que necessito dumas férias.