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terça-feira, 9 de outubro de 2012

TIGRESA LIBERAL, procura... =====

...O cliente se foi finalmente. Não estava mais a fim de companhia. Caso o telefone tocasse jurou não atender, inclusive desconectara a internet. Amanda andava cansada daquela vida de garota de programa. Seu corpo anseia por um banho, cremes, descanso... Pretendia largar tudo, insistia consigo mesma. Mas, tentava sem muita convicção convencer-se a mudar de ramo. Vida doméstica, ter um namorado sem assustá-lo com a sua profissão ou mentir à família.
Reconfortante a ducha fazia escorrer uma cascata morna de espuma precipitada de sua púbis... Temia contudo, Amanda, as pedradas da opinião alheia. Mudaria ela, e os outros? Desconfiava se a sociedade que cospe, é a mesma que quer lamber...
Aprendera utilizar o poder de uma buceta, provedora de tão convincentes conquistas. Comprara carro, pagava contas, diferente do que se ficasse à míngua na cidadezinha natal, vendo definhar num fundo de panela seus encantos. Cedo teria engravidado dum qualquer, presa a vontade do marido... Custeara a passagem pra Capital com a virgindade, sendo um certo vereador daquelas bandas o feliz cambista.
Os primeiros passos foram em boates e pegou rápido o tino comercial do negócio. Desde quando nascera o mundo lhe cobrara um preço. Quem falou que deus dá a vida? Ela é emprestada! Todos pagam a fatura, têm lucros... Sexo requer habilidade, a tabela de serviços oferecida nos classificados contemplava massagem, sexo oral, anal, kama-sutra, menáges, dupla penetração, sadismo, acessórios, fetiches, totalmente privê...
Não envergonhava-se da vida que levava, conversa de Delegado, moralismo de dona-de-casa, não garantia o sustento dos pais. O que seria deles sem o dinheiro que ela enviava? Suor do expediente na fábrica...
Findo o banho secou-se, fez da toalha um turbante e vestiu seu robe. Acendeu a metade deixada de um cigarro de cannabis, longas baforadas inundavam o quarto num fog translúcido coado pela luz do abajur... Seus dedos cavam no pote um creme que Amanda aplica à pele. As mãos asseguravam a rigidez da carne. Aquele corpo exausto a única coisa de valor que possuía. Carreira de prostituta era igual a de jogador de futebol... Bola pra dentro! Enquanto correm atrás de você, tá bom. Era aproveitar o auge da fama.
Sua universidade fora a vida, mas bem que merecia receber o diploma em psicologia, papel mais exercido atualmente. Convencera-se serem os homens uns inseguros, achando que serão sempre os prediletos da mamãe. Por aquela cama passavam estórias inusitadas, de quem menos se desconfia... Aqueles homens emergiam pelas dobras dos lençóis.
Vinha-lhe certo conhecido empresário, cuja mulher após acidente de automóvel vivia paraplégica numa cadeira de rodas. Apesar de contrafeito mantinha o casamento para não perder o direito à fortuna.
Às quartas-feiras, um excêntrico que só ia lá vestir suas peças íntimas e ser enrabado por um consolo negróide tamanho G, de 5 polegadas.
Houve um tipo que puxou conversa esquecendo o que viera fazer ali...
Queixas pelo relacionamento que levavam, compromissados com as mulheres ditas "direitas". Percebia haver um certo cinismo, como que para melhor ser atendido em suas carências. A maioria deles pensava que ela estava ali para ser confidente. Não os queria mal, só não conseguia sentir pena. Que mais poderiam pedir em troca?...
Ah, como ela preferia que fosse à moda antiga. Um martini, aquela pegação básica duma mão invasora por baixo da pouca roupa, o acerto de contas. O fulano chegasse e se aliviasse, as vezes dependendo do tipo até gozava durante a encenação.

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