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domingo, 3 de novembro de 2019

JARDIM DE INFÂNCIA =======

Não importava quanto a vida lhe negue, o moleque sabia conquistar sua sobrevivência. 11 anos talvez. Pelas padarias, cruzamentos, ganhava um bom bocado que ameniza a fome. Ele mastiga as palavras em meio aos pedaços dum salgado.
A mãe nalgum lugar apartado da cidade, inquieta pensando nas maldades do mundo, não impedia de escapulir. Era o gênio dele respondia à assistente social.
Pedia, insistia. Voz contrita consistia a artimanha:
- Pô, tio! Paga aí... Ô, tia! Tô cuma fome. - Assim como um parente distante que aparecia de repente. Encontro fortuito de sagacidade ludibriadora da bondade. Apelava até conseguir. Uma coxinha, descolava um café com leite, doce ou refrigerante.
Um simples moleque. Ele o futuro da pátria. Pequeno herói do infortúnio, dado à travessuras urbanas, trazia o olho roxo socado por um guarda municipal da patrulha. Esses corrigiam por linhas tortas... Nisso deu uma golada num suco gelado, sabor artificial de laranja. Não era um menino mau, pois que aprendeu a criar "coleirinha", cuidado pela mãe. Tem uma gaiola pendurada no barraco da favela.
Há os que insistem em lhe dar conselhos. Perguntavam se o moleque tinha mãe... Se fosse filho de chocadeira! Enteado da sorte madrasta isso sim. Mesmo uns coleguinhas de rua sacaneavam dizendo, que nem o seu pai quis conhecê-lo. E riam com aquela inocência perversa dos fedelhos.
Lambendo os dedos engoliu o último pedaço, entornou o que sobrara no copo descartável. Depois de amarrotar o guardanapo, lançou fora da lata de lixo outra vez... Acertaria na próxima. Vendo isto a garçonete obriga que apanhe o papel.
Distraía-se com a programação exibida em televisores dos bares. Atendia o malandragem junto à esquina por um favor, filósofo da "letra" do asfalto. Garimpando um punhado de moedas, se dava o luxo de escolher o que comer nas vitrines tentadoras das bombonieres. Comprava drops pra agradar a garota bonita, que vende aos passantes ali na frente da porta do Banco. Daí era penar de bolsos vazios, estômago acusando novamente a fome. Passar por baixo da catraca do ônibus, se o motorista deixasse.
A vagar pelas calçadas, o moleque aventurando-se nos jardins da infância citadina, entre os bosques furtivos de prédios, desperta debaixo da marquise dos grandes magazines, quando o sol se levanta para um novo dia. Este querubim decaído, sujeito à pequenas trapaças dado o caráter da sociedade.