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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

BENDITO FRUTO ===========

Tanto que pediu ao Cristo na missa pela sorte do menino, livrar ele dos descaminhos do mundo traiçoeiro.
Antes Cleson vendia tapioca no centro da cidade a mando da mãe. Pra garantir algum mantimento pra casa. Tapioca dava pouco... Quis adiantar  o seu lado. Entrou pro tráfico. Vendia drogas.
- Sai dessa vida, Cleson! Isso dá cadeia!! - Insistiu. Ela não sabia onde tinha errado.
Outras vezes de combinação com os pariceiros, deu pra tomar o que é dos outros. Até entrava nas lojas do shopping torrando nota de $100. Querido pelas novinhas piriguetes da comunidade. Meteu algumas mais atrevidas em sua piroca de michos pentelhos. Botou banca na "quebrada".
Naquela tarde chegaram os policiais, sobem o morro. Arma em punho, é o seu cartão de visita... De olho na "fita", Cleson, ligeiro larga a lata de refrigerante. Mandou um assobio de alerta pros "trutas". Sacou do .38 enviesado na virilha... Foi coisa de filme. Trepou uma lajes. Desceu nos fundos duma birosca, nem pediu licença, saltou a mesa de sinuca espalhando o jogo... Ele já vazava a porta da frente.
Bem na subida pelo lance tortuoso da escadaria. Em direção dum beco estreito. Sua mira era míope ao alcance da certeira do "bota"... Perdeu no bang-bang.
Quis retornar, era tarde. Morreu sentado no batente do boteco, cabeça pensa no peito, a mãe ao seu lado conversa com ele como se ainda estivesse vivo.
- Você não ouve!... Desobedece o que a gente fala. Eu devia ter te dado uma surra, Cleson!... Por que fez isso comigo, filho!? Você disse que era só até juntar dinheiro. Acabou ficando sem nada... E ainda rouba meu juízo. Eu falei tira essa coisa da cabeça... Se matar por dinheiro!... - Gesticulava atarantada. Do alto, o helicóptero da reportagem flagra o fato.
Um tiro acertara bem em cheio o logotipo do seu "pano de grife".
- ...Eu falei pra ele não ir mais, gente... Olha o que aconteceu! - Murmura seu lamento. - Não foi isso que sonhei pra você. Não bastasse dar tudo errado pra mim, contigo foi pior, Cleson... Será castigo? Eu  que queria te ver homem formado. Até uma cadela velha feito eu merece ser feliz... - Queria abraçá-lo, não permitiam alterar a cena do crime. - Tu até podia não prestar, mas eles não tinham esse direito... Por que fui te botar no mundo? - Sangue escorre e suas lágrimas pingam em cima. Ele espuma coca-cola pela boca.

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