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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

OBRIGAÇÕES DE PAPAI NOEL =====

Considerou bom augúrio ser escolhido para representar a figura de Papai Noel. Aposentado, o "bico" de final de ano garantiria a ceia de Natal e a lista de remédios... Mal se reconheceu no traje escarlate, a barba postiça cobrindo-lhes as rugas. Sua voz por encanto mudara.
Desceu de helicóptero no centro, a multidão aguardava ansiosa. Os sinos da catedral badalavam acompanhado do coro solene de anjos de auréolas tortas. Cumprindo-se a noite feliz ofereceram-lhe a chave da cidade. Muito além das medidas para abrir qualquer porta, e do alto não vira tantas chaminés assim. Como agradecimento fez soar a inconfundível risada rouca aprendida dos sósias. Logo depois foi conduzido ao pedestal da árvore reluzente, cenário em que a quimera natalina se completava...
A fila acorria interminável até ele para confidenciar seus desejos, um turbilhão de lágrimas e sorrisos comoventes:
- Quero uma boneca que fala para brincar comigo. Porque não tenho nenhum amiguinho. O senhor dá? Promete?
- O meu pedido... É que Deus do céu me desse mais alguns meses de vida. Não me leve antes do meu neto nascer... Eu vi os exames! Ninguém dá nada por mim. Fala com ele!!
- Eu queria uma roupa nova pro natal. Que o senhor conseguisse emprego pro meu pai. - Pediu o engraxate. Olhos fitos nele, a súplica confiante dos demais. Como se todos depositassem suas derradeiras esperanças naquele saco de surpresas.
Dominado pelo conflito ele pouco atinava como atender tais pedidos, e que Papai Noel algum realizaria... Ah, míseras crianças! Acaso soubessem que não passava de um inocente "faz-de-conta". Por baixo daquela roupa escondia-se um velho desafortunado.
Enlouquecia a cada aproximação temendo o próximo pedido. Desiludido arrancou as vestes e saiu correndo pela rua.

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