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sexta-feira, 16 de abril de 2010

ANOS DE AIs... ==========


Na maioria das noites começa como num devaneio primaveril-tropical, comigo a passear pelo campo florido de rosas rubras. E ao olhar na aurora surreal do horizonte vem acelerado um pelotão de coturnos obstinados, crescendo... Agigantando-se! A espezinhar as flores aterradas, vertendo profundo mar de sangue sobre a terra gentil que me engole... Uma voz berra obcecada, "desembucha, comuna de merda!!"
Então, eu acordo banhado em suor. Um gosto acre na boca, agonizante no chão do quarto. Por mais que fuja o passado revive onde estou e vou. Esse temor usurpou morada na minha cabeça. Sou um fantasma da história!... Herói inglório. Por que desejaria agora medalhas por bravura? 
Nos noticiários da tv e nas ruas a realidade segue deste modo que sempre foi. Com as pessoas nessa lida infindável do sobreviver. Na busca de comer e da bebida, do descanso eterno. Sem maiores pretensões que esta de estar vivo acima dos sete palmos que nos é destinado. Preocupadas com os mexericos alheios, a novela e o futebol... A tempestade e o sol inclemente porvir.
"O sonho terminou!" - Ouvi naquele bizarro 1968, de um angustiado companheiro na masmorra da Ditadura. Seria a premente desesperança de um sonho só?... A luta apenas iniciara, agora segundo a nova regra deles.
Hoje, tal e qual ontem a indiferença é a máscara comum no rosto da multidão autômata. Apagar as marcas do que se foi. Onde a semelhança não pára somente neste aspecto admirável. Sobretudo, nas suas fúteis alegrias e constantes desgraças. Outros mais nascem para que se repita igual rumo sórdido dessas rosas esmagadas, sem viço...
Dentro de mim a dúvida repercute. O que fizeram de nós? Tutelam o caminho, nenhuma curva acentuada à esquerda... Escravos consentidos do Capital!... Meu corpo vacila e perturba-se ante a recordação das horas de purgatório da tortura: choques na cadeira-do-dragão, da palmatória ardente, suspenso num pau-de-arara, gritos e ranger de dentes... De trazer às costas os erros do mundo, além de ter recebido o castigo por minha própria culpa. Em querer modificar o imutável, alterar a ordem e o progresso das coisas... Os responsáveis estão soltos por aí, querendo se fazer de carrascos vitimizados. Mas foram eles que feriram a Democracia na sua pluralidade. De pensar e de existir. Fizeram do arbítrio força de Lei... Como democrata lutei pela Liberdade. Quis um país de oportunidades iguais... Valeu à pena? 
O Homem do tempo informa "céu de Brigadeiro" na previsão meteorológica.  A vida passa entre o asfalto e os pés dos transeuntes.

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