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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

EPISÓDIO MEMORÁVEL ======


Da vida remoía incontáveis queixas. Era na morte que se comprazia seu espírito. Velórios familiares verdadeiros acontecimentos festivos. Parente próximo ou distante fazia questão de chorá-lo. Conservava o costume de registrar em albuns fotográficos cada passamento. Bem como mantinha engomado o vestido retinto para a ocasião do luto.
Ocorrido o óbito, exultante dispunha-se em transmitir a trágica notícia. Somente nestas oportunidades fúnebres conseguia reunir toda família. Nas quais comia-se e bebia-se à vontade ouvindo piadas marotas daquele tio sacana. Nessas horas esqueciam do morto, que por uns instantes ficava solitário e o salão invadido pelo riso.
Após o hiato, Ela era a primeira ir prantear à cabeceira do caixão. Assumia um ar solene. Manifestava condoída a beleza mórbida do cadáver. Num diálogo com o desencarnado como se este estivesse atento, exprimindo as qualidades do falecido ou da defunta. Todos fadados a viver no paraíso dada a sua exemplar generosidade... E ai daquele que afirmasse o contrário! Desenterrava estórias reveladoras, passagens pitorescas que então sucedera ao defunto.
Quando por fim trancavam a pobre alma, é que abatia-lhe a tristeza daquele episódio memorável.
   

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo texto... assim como todos aqui escritos.
Em nossa cidade pouco se escreve.
Este blog será referência!

Parabéns Urbain

Cristiano Jangadeiro