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terça-feira, 30 de abril de 2019

O 'HOMEM DE DEZ MIL ANOS' # 0

Seu quintal abrangia o planeta inteiro. Deste modo que preferia ver os espaços além da estrada, enquanto caminhava a esmo. Era no gozo da sua liberdade que o 'Homem de Dez Mil Anos' ampliava a dos outros ao infinito. Se a natureza o fizera humano decerto não faria sentido comportar-se feito as plantas, presas às raízes num único lugar; afim de florescer e brotar os frutos. Contornando o penhasco avistou pessoas ao redor de uma fogueira, junto à arrebentação das ondas logo abaixo. Diziam-se também viajantes em busca de seus destinos. Tinham os corações oprimidos transbordantes pela boca.
- A que viemos?... O que somos? É a sombra que persegue meus passos... - Expôs melancólico um deles.
- Reparem nossas sombras formadas pelo lume do fogo. - Iniciou o 'Homem de Dez Mil Anos', mostrando as imagens tremeluzentes contra o rochedo. - Elas estão lá, nós as vemos... Mas de fato elas existem? Assim é o Homem, miragem cósmica no universo. Preocupem-se em manter o fogo aceso. Seria o bastante.
- Nessas andanças um anjo me revelou que os tortos caminhos não levam a lugar algum. Que há só um caminho... Por isto minha jornada cessa aqui.
- Porque as pessoas temem Deus haverão de deixar de investigar os mistérios da existência?
- Nós nada somos ante os desígnios divinos. - Insistiu o andarilho resignado.
- A semente só germina tendo o caroço se libertado da casca... Haverá a terra de recriminá-la por tal audácia?
- Olho para o céu ao entardecer e pergunto a razão toda dessa angústia. - Disse a viajante aquentando as mãos no calor das labaredas.
- Não perguntem ao universo, onde nada repercute, conquanto saibam a resposta. O que importa sobre as nuvens não são as figuras que elas formam no céu, mas as forças da natureza que agem sobre elas. Assim procedendo estarão livres do cabresto social.
- Será possível nesta sociedade viver segundo nossa própria vontade?
- Eu sonho com o dia em que a Terra pare. Nesse dia as pessoas deixarão de lado as coisas fúteis do cotidiano, cumprir a despótica ordem estabelecida e raciocinar sem esta avareza da ganância. Para serem então novas pessoas, num mundo verdadeiramente novo. - Prestes a seguir tornou dizendo. - Tens a chave e a fechadura resta saber o que há por trás da porta... Quem tiver coragem abra!

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