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domingo, 18 de abril de 2021

O 'HOMEM DE DEZ MIL ANOS' # 2

Certa ocasião o 'Homem de Dez Mil Anos' aportou numa pequena cidade. Nesse dia disputava-se um clássico de futebol entre a agremiação local e o time da cidade vizinha. Para o campo acorriam centenas de torcedores com suas bandeiras, instrumentos de algazarra pra sustentar o coro da arquibancada.
Chegando ao estádio sentou num espaço que separava as duas torcidas rivais, onde se xingavam mutuamente antes do jogo começar. Ao adentrarem o gramado os times foram recebidos pelo fumacê nas cores dos clubes, muitos gritos de guerra e espocar de rojões. Depois do "cara ou coroa", o árbitro deu início à partida...
Corre pra lá, corre pra cá. Algumas botinadas, mais ofensivo o esquema tático do rival encaixou... Aos quinze minutos do primeiro-tempo o escrete visitante abriu o placar. A torcida adversária foi à loucura. Empolgado com o golaço que fizera o craque meia-esquerda, ao driblar o zagueiro daí chutar pro  fundo da rede, o 'Homem de Dez Mil Anos' sacudiu pra valer na arquibancada... Nisso o adversário armou a retranca passando a se defender, à espera do contra-ataque. Obrigando seu goleiro fazer grandes defesas.
No intervalo, os jogadores ameaçaram sair aos tapas. Aqueles torcedores que não foram mijar, tiravam sarro uns dos outros, cantorias, provocações diversas. Embora tenso, aquilo estava aquém das manifestações que vira entre os chineses, 2.500 anos antes de Cristo, quando os soldados se divertiam num jogo animado chutando o crânio de seus inimigos decapitados. Ou como assistira épocas atrás durante jornada à Civilização Maia, em que dividiam dois coletivos, os quais deveriam acertar com uma bola a meta na forma de aro. Sendo esta disputa tão ferrenha, que o líder do time perdedor era punido com a morte... Então recuperadas nos vestiários, as equipes retornaram e deu-se  continuidade à peleja...
O clube anfitrião voltou melhor pro segundo-tempo. Uma torcedora nervosa roía as unhas, tanto quanto berrava o nome do ídolo querido. Os  dois técnicos à beira do gramado davam orientações táticas gesticulando, além de perturbar o Bandeirinha quando das marcações. Logo aos cinco minutos uma bola na trave adversária acendeu a equipe da casa. E após muita pressão junto à grande área, perto dos vinte e três da etapa complementar, batendo falta precisa na forquilha (lá onde a coruja dorme), o Lateral-direito empatou o dérbi interiorano. Tomado pela emoção o andarilho milenar vibrou com o gol. Tanto tempo sem ir ao estádio, ele esquecera quanto surpreendente poderia ser uma partida de futebol... Alguns torcedores, de ambos os lados, estranharam tal atitude infiel. O camarada devia estar maluco! Que camisa veste, qual time torce?
Alguns impedimentos, o "Uh!" de frustração dos torcedores pelo quase gol, lances perdidos pra virar a partida, chutes pela linha de fundo... E o jogo terminou empatado. Radiante o 'Homem de Dez Mil Anos' comemorava. Um torcedor não se conteve, exigiu explicações. Aquilo era "virar casaca" demais, sendo que ninguém ganhara.
- Como não! - Respondeu ele. - Fico feliz porque não havendo vencedor, nem vencido podemos todos festejar duplamente.

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