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sábado, 2 de fevereiro de 2008

MELIANTE ================



Pode ser que tivesse algum nome, além do "meliante" anotado pelo policial num registro. Fosse mais que a elaborada descrição para indigentes nas lacunas do relatório: mulato, 15 anos, carapinha, 1,60 de estatura.
Jamais transpusera as fronteiras do bairro no qual viveu. Universo vasto daquela ínfima existência. Embora, nestes breves quinze anos ousara ultrapassar os limites. Não tão maior que o confinamento na jaula invisível da periferia. Limbo incrustado na cidade, onde o presente se repete num cotidiano round virtual de fliperama.
Ali compartilhou entre um trago e outro do cigarro proibido suas débeis razões, seus frágeis ídolos das paradas de sucesso. Que faziam dele um igual e diferente na mesma medida. Nessas viagens desgovernadas rumo ao nunca, sonhos e delírios abriram-lhe a larga porta do crime...
O policial finalmente preencheu o formulário. A todos parece suspeito... Juntam pessoas aos seus pés a rodeá-lo. Atônitas vendo-o estirado por seis balaços, o sangue escorrendo pela calha da sarjeta direto para o esgoto. Aborto tardio expelido das entranhas desta pátria madrasta.Viraria macabra notícia, seu sorriso infantil numa foto 3X4, como legenda as iniciais maiúsculas nas linhas miúdas do jornal. Fama sórdida dos desvalidos. Numa espécie de "era uma vez...", onde finda a estória sem ser.

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