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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

RACIO[CI]NAMENTO ========

A família ficou revoltada com Seo Severo. Antes mesmo dos apagões ele decretara o corte temporário da energia elétrica. Na verdade sempre foi um obsessivo em fazer economias, do tipo que não usa caneta pra não gastar papel. Alguns serviços da casa também passavam pelo racionamento...
- Pô, pai! Banho gelado nessa friaca...? Que papo brabo!! - O filho rebelou-se.
- Fique sabendo que os russos por tradição se atiram no rio congelando... E fazem festa!
O blecaute definitivo tinha horário determinado. Queria dar o exemplo. Depois da meia-noite quem quiser que tropeçasse na escada, ou enfiasse as fuças nos batentes das portas.
- Como vou ao banheiro de madrugada, mãe? - Choramingava a caçula.
- Os cegos fazem isso sem olhos. Por que você que enxerga haveria de se atrapalhar? Mora quinze anos numa casa e sequer consegue andar pelos corredores.
- No escuro?...
- Desde quando o caminho do banheiro é a direção da geladeira? Você devia fazer um regime, carreira de modelo dá muito dinheiro.
- Mãe!...
Com ele, "dura lex sed lex"! Ninguém entendia, mas sabia que era dureza... Velas nem por hipótese. Receava perder o único patrimônio que possuía num incêndio. A lanterna somente seria usada em caso de emergência.
- Pensa bem, nega... Nosso chamego no escuro é mais gostoso! - Insistia na tentativa de aliciar a esposa para o seu lado.
- Ora, tu mal acerta o caminho com a luz do abajur... Falta energia. Quem dirá no breu!
- Vocês são uns egoístas! Custa o sacrifício?... A pátria não merece os filhos que tem.
- Qual é, véio!? Dá pra deixar uma lamparina acesa no fim do túnel? - Era o filho saído do banho, tiritando de frio.

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