# BLOG LITERÁRIO # POEMAS - CONTOS - CRÔNICAS #

sexta-feira, 29 de julho de 2011

PARA QUE OS VELHOS NÃO ESTRAGUEM =====

Quando em vez a filha colocava-o na frente do portão da casa para tomar banho de sol. Mantinha o olhar no além, ao passo que escorria um filete baboso pelo canto da boca entreaberta, como a aguardar somente a hora de botar terno e um cravo na lapela. De fato havia naquela sua palidez, na imobilidade resoluta e neste rígido silêncio algo da expressão cadavérica, enquanto tostava a pele lívida embrulhada nos ossos, feito uma roupa frouxa, com aspecto de cera enrugada.
- Vamos ter paciência com o coitado, a gente não sabe até quando ele vai durar. - Apiedava-se uma neta já conformada com a demora dele partir.
Perdera-se em tristezas a felicidade... Vinha a mosca e ele, impertubável! As crianças em algazarra acertavam-lhe a bola sem queixa alguma de sua parte. Encostava um cachorro a mijar atrevidamente aos pés da cadeira, ele alheio no seu torpor como que a sonhar eternamente.
Nesta sua posição nem tudo era incômodo. Uma vez esquivou-se da morte quando houve um tiroteio e se livrou de ser o destino de uma bala perdida. Alguém teve a sensatez de perceber.



- Graças a Deus, não se moveu do lugar!
Ao primeiro sinal de chuva a filha acorria com medo que ele se estragasse.

Nenhum comentário: