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segunda-feira, 5 de março de 2012

COMO OS LÍRIOS NO CAMPO... =====

- Como você se vende ao mercado? - Reverberava sonora a questão por sobre o auditório, sob avaliação imprecisa da audiência...
Há meses desempregado padecia as cobranças do fracasso. Contas no prego, endividado de promessas feitas, graças a ruína de conglomerados financeiros na volatização dos capitais. Pensamento positivo, extenso curriculum, livros de auto-ajuda, apelara pras mais diversas estratégias a fim de se recolocar na cadeia produtiva. Juntou os últimos centavos e inscreveu-se numa palestra motivacional, com um desses Phd em Rh, Marketing Pessoal & Co.
- Quem é você? Qual o é seu valor?... Você também é um produto vendável. E tem que saber se vender! Mostre o seu diferencial... Você precisa de uma ótima oportunidade pras pessoas te comprarem. - Tantas perguntas certas das respostas não pediam outras explicações. Alguns olhos aqui e ali brilhavam vetrificados... - Se você aí sentado não tem valor, você está morto!... - Temeu decretada sua falência pessoal.
- Eu sou uma águia predadora! - Viu-se repetindo, os dedos das mãos crispados em garra, a interagir com os demais participantes naquela selva de medos.
- Seja como o Bambu-chinês fortaleça as raízes e cresça para as alturas. - Emocionara-se com as parábolas consoladoras de Paulo Coelho e filmes mostrando as superações de deficientes físicos, a duvidar de quem nem todas as deficiências são aparentes. Num dado momento o palestrante chegou a exemplificar que salário era um detalhe, como o Técnico Parreira dissera a despeito do gol...
- Faça por merecer e o céu será seu! Nenhuma recompensa vem antes do trabalho dignificante... Você precisa ser escravo da sua ambição para se tornar livre. E só assim garantir um futuro lucrativo.
Não pode deixar de reparar que o palestrante estava bem empregando, esbanjando otimismo... Ultimamente sente inveja mesmo da sorte dos bichos, das plantas, os quais sobrevivem ao relento na natureza sem quase nenhum prejuízo. Até os lírios-do-campo foram elogiados por sua santa ociosidade.
 

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