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sexta-feira, 23 de março de 2012

TODO CUIDADO É POUCO =====

Escondido atrás de circuitos fechados de tv, Prudente se prende em casa devido a onda crescente de violência. Um meticuloso sistema de alarme e senha garantem a inviolabilidade do recinto. A cêrca elétrica entorno da residência inibira a invasão dos gatunos e torrara alguns bichanos desavisados. Supunha que estar afastado do problema era se livrar dele. Planejava seriamente mudar-se para um condomínio privativo, embora estes também fossem alvos dos ladrões.
Assumiu verdadeiro pavor de andar na rua. Protegido num carro blindado seu trajeto para o trabalho é esquemático, do estacionamento ao elevador e daí para o escritório. Quase já não ia às compras, pedia o que necessitava pelo delivery, ou no shopping virtual on line. Aboliu o dinheiro, pagava tudo com cartão de crédito. A diversão garantida por um sofisticado home theater e uma centena de filmes em dvd, mais os infindáveis canais da tv a cabo.
Enquanto dorme tranquilo, dois ferozes rotweillers soltos no quintal guardam seu sono dos justos. Foram especialmente treinados para um ataque mortal pelo adestrador de uma empresa especializada em proteção pessoal, cujo conceito era tolerância zero com o crime. Às 18:00 horas um mecanismo de temporização solta as feras do canil, e o acesso protegido para a casa dá-se pela garagem, num pequeno hall interno.
Lera num site que muitas pessoas eram assassinadas, na maioria dos casos, por conhecidos da vítima. Ciúme, inveja, vingança... Passou a temer a proximidade demasiada. Prudente só relaciona-se pela internet e fez inúmeras amizades. Adorava teclar na segurança oculta do chat. Algumas vezes ele se exibia disfarçado em frente a webcam, ou trocava fotos fakes com correspondentes do seu profile... Mas qualquer desconfiança era motivo de precaução. Entrou em pânico no dia que não reconheceu o telefone da mãe no detector de chamadas, ela trocara de celular, temia sofrer uma ameaça de extorsão financeira.
Numa noite escura, bêbado e tendo perdido o controle remoto do portão basculante ao conseguir adentrar sorrateiramente com muita dificuldade o quintal - sem ser reconhecido foi dilacerado pelos cães.
   

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