# BLOG LITERÁRIO # POEMAS - CONTOS - CRÔNICAS #

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O PODER DO MOSQUITO =====


Aquilo só poderia ser uma gafe do destino. Justo consigo, uma pessoa requintada! Assídua frequentadora das colunas sociais. Tida como quase amiga íntima da Primeira-Dama, figurar assim nas páginas do cotidiano daquele jornaleco. O modo como se referiam era ultrajante:
"Perua Socialite Abatida Pela Dengue."
Queria levantar não conseguia. Estava em frangalhos. Era difícil atinar, doía-lhe a cabeça, os olhos. O corpo então, sentia-se o próprio Judas malhado no sábado de aleluia. Aquelas manchas provocavam-lhe asco. Nem o melhor creme Helena Rubinstein daria solução.
Na janela a paisagem estampada era dos barracos alastrando-se pela redondeza. Tinha convicção de que o mosquito morava ali. A infestação vinha de lá.
- Nete!! - A doméstica veio correndo. - Leva essa sopa horrorosa daqui...
- Posso trazer a "comadre" agora, ou depois?
- Mas que abuso! Diz mais alto pra toda vizinhança saber.
- Sim, porque da outra vez a patroa fez as necessidades no lençol. Nem deu tempo, não foi?
- Não facilita, Nete. Eu te jogo no olho da rua!... Vê se cumpra suas obrigações calada. Põe água pra minha planta... - Nete se foi agourando a outra. - E não esquece do pratinho no vaso. Te esfolo caso você molhe meu tapete persa! - Fazia calor e nunca deixaria sua samambaia de renda portuguesa morrer à mingua.
Nisto zumbiu pelo quarto um inseto... Ela empalideceu! Mal lembrou do inseticida na cômoda, num tapa certeiro o monstro caiu aturdido sobre a cama. Naquele mosquito ela reconhecia a força dos pequenos. Daqueles que são quase nada. 

Nenhum comentário: