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terça-feira, 10 de agosto de 2010

BHAKTIDUSVEDA GURU ======



Acomodado sobre o monolito incrustado de epígrafes védicas, uma mão pousada no Bhagavad-gita e a outra empunhando o narguilé de ervas transcendentais, Sua Diviníssima Graciosa Bhaktidusveda Guru (fundador da Excelsa Consciência Mística) promovia a conferência anual da irmandade...


BHAKTIDUSVEDA: Benvindos aqueles que pleiteam a misericórdia do Senhor Visnu. Para elevar-se desta fantasmagoria transitória da matéria, renascendo no Vrndavana além. A deitar por terra o cativeiro manifesto do corpo.
DISCÍPULO: Mestre... (Inquiriu o mais raquítico deles) Chego das ruas e as almas que tentei arrebanhar questionaram-me: "como alguém que prega uma vida simples, de dádivas naturais possui uma coleção de Ferraris?"
BHAKTIDUSVEDA: Patifes... Não vivemos nós na não menos abençoada era de Kali? Tudo pertence a Krsna porque provém dele. Façam uso da máquina, aproveitem da tecnologia, contanto que creiam e glorifiquem o Senhor, aconselha-nos as escrituras. Os homens deveras materialistas culpam seu insucesso e auto-realização às crises econômicas, submetidos que são a enganosa tarefa de prosperidade. Queres ser rico? Vá aos oceanos e colha as pérolas do leito. Escave até o âmago da montanha e encontrarás diamantes.
DISCÍPULO: E o harém de belas virgens? Maldiz a língua diabólica...
BHAKTIDUSVEDA: Para o sexo imaterial, tolo. São nossos espíritos que copulam. Por isto fiz dos varões, castos eunucos. Através do mero olhar de Krsna a matéria fica agitada, engravida e, então, dá à luz as entidades vivas. Daí que dizemos: Crias do Senhor.
NEÓFITA: Guru... Há semanas não levo à boca um naco de carne. (Regozijou-se ela, os olhos fundos pelo 40º dia de jejum purificante) A luz e a brisa de Krsna nutrem minha forma humana... Hare Hare, Hare Rama!
BHAKTIDUSVEDA: Por que comer animais inocentes apenas por puro capricho cruel? Matar vacas que são um manancial de leite, iogurte e coalhada.
DEVOTO: Eu saciava o torpe gozo dos sentidos, Bhaktidusveda, em churrascos com os amigos quando do meu objetivo de vida profano.
BHAKTIDUSVEDA: Queira os céus você renasça vaca e cumpra o sacrifício prescrito na Índia, berço de Brahma, e não no ocidente, onde certamente no amanhã você se tornará o bife acebolado do almoço... Que bem pode fazer a carne? Vejam como são sorridentes nossas novilhas. Seria justo comer quem é, ou pode ter sido um ente querido nosso?
DEVOTO: Trago boas recordações de uma prima nos meus antigos dias mundanos. (Remeteu-se ele, apalpando a parte faltante entre as pernas) Que filé...!
BHAKTIDUSVEDA: Misérias de uma existência sórdida. Fatídico sortilégio carnal!... Agora a dívida findou, não cometas mais pecados e ocupem suas mentes com nobres causas. Eu lhes asseguro, Dvaraka é logo ali. (Bimbalharam sinetes seguidos de vozes ocultas que entoavam o mantra sagrado)

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