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terça-feira, 3 de agosto de 2010

EREZINHO ================

Um bom menino sim, tinhoso às vezes. Qual criança não dava trabalho? Nosso Senhor o criara daquele jeito... Sumia dias seguidos, depois retornava - presente embaixo do sovaco sem preocupação de embrulho.
Braços abertos ela o retinha junto ao colo. Não aquietava nunca, depressa o malandro escapulia... Maliciosa a tia ranheta caçoava tentando abrir-lhe os olhos.
- Titia... Como não conheço. Se o danado saiu daqui ó! - Apontava o bucho caído. Noutra hora admitia ter ele muito dela.
Metia os pés pelas mãos (as mãos nos bolsos do alheio, os pés na fuga). Feito louca corria atrás da fiança. Descoberto o endereço da vítima procurava convencê-la da culpa das más companhias. Nada conseguindo ofendia e ameaçava... Que custo tinha conceder o perdão? Ninguém faria do seu garoto causa perdida. A idade haveria de consertá-lo, pondo-o nos eixos.
Amor de mãe ameniza os defeitos. Mas, a justiça que é madrasta severa deu no marmanjo o corretivo à duras penas.
No domingo, dia de visita na detenção, ela preparou a melhor marmita, cigarros... Perto da portaria formava-se tremendo rebuliço. De longe viu uma moça desmaiar. Aflita deteve as passadas. Nuvens escuras pairavam sobre as guaritas. Rogou balbuciante à Iansã auxílio para o erê. O céu retorquiu com trovões...
Conduziram-na até um vestíbulo onde trouxeram o filho numa maca, o pescoço dilacerado. Enleou-se as vestes ensanguentadas e percebeu que haviam arrancado dele o coração... Agora era o dela despedaçado. Quem poderia querer tanto mal ao seu menino?

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