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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

CERTEZA REMEDIADA =======

Há dias Dála gania lastimosa pelos cantos. A ferida no dorso do animal supurava um líquido fétido. Seu esbarrar impaciente contra as paredes dava mostras de querer fugir de um cerco imaginário...
O homem na poltrona nem consegue mais fixar a atenção no jornal. A sala imersa numa atmosfera de sonho, desses que se sonha desperto. Nas manchetes a espécie humana escrevia sua fantástica história, sem contar com os que ficam à margem do caminho... Dála, companheira de infortúnio, olhava-o como que indagando a razão de tais dores. Doía-lhe igualmente o maldito câncer na boca, sem deixá-lo pronunciar que fosse um queixume.
Os fins são todos iguais, compreendera. E nele conjeturava suas recordações: as paixões fugazes, os erros, no gosto amargo do tempo esquecido. Não havia modo de refazer, nem porquê. De tudo quanto juntamos, a vida é um punhado de dias...

A cadela retornara do cômodo e esboçou algum contentamento tardio. Quis encontrar vãs respostas naquele olhar  turvo, e nesse obscuro silêncio certo consentimento. Por que não findar com aquela agonia, abreviando a certeza remediada até então? É o medo aceso que nos faz vítimas dos nossos sofrimentos... Hesitante o homem foi à despensa, onde sabia ter guardado um frasco de veneno.
  

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