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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

PELO CELULAR... ==========

Fila de banco, divã vertical da gente simples. O sujeito atrás de mim puxou conversa. Ultra-conservador cochichava desconfiado seus pareceres sobre as mazelas do mundo. Se entendia justo,  imputando a justiça típica dos carrascos - como ser contra o aborto e a favor da pena de morte. Filósofo da existência alheia não havia estória sem que destrinchasse nos mínimos detalhes. Em suas frases sentenciosas requintes de extrema crueldade.
De repente toca o celular... Ele atende em altos brados, assumindo umas poses estranhas:
- Alô! O que foi desta vez, Amália? O mesmo conversê de antes... Como é!? Se eu tô sentado? - A fila ri daquela espontaneidade. - Estou no banco... Que banco de praça, o quê!? E eu tenho tempo pra isso. Fala logo duma vez,  Amália. Assim não dá! Fale agora ou se cale para sempre. Quer, por favor, ser rápida... Direta! - O camarada tinha estilo. - Sei... Quer dizer, nada sei ainda. É até melhor eu saber estando longe... Tá, tá! Que enrolação, Amália!! - Esbugalhou os olhos, experimentando o outro ouvido. - Não entendi direito... Não me diga uma coisa dessa! Posso até ter um troço. Você é peçonhenta, mulher! Denegrir sua única filha com semelhante lorota. Não pode ser a mesma... Repete de novo. - À essa altura os "caixas" mantinham os ouvidos atentos. - Grávida, mesmo!? Não é nada psicológico, nem sobrenatural... Mas, como?... Claro que eu sei, eles foram pra cama e... E... Argh! Deixemos os detalhes. - Ele cobre o bocal. - Justo a minha princesinha! Minha criança linda... Tanto sacrifício para vê-la arrastada por um Romeu barato. - Logo encontrou a quem condenar. - Embaixo do teu nariz, não é verdade? Debaixo da tua saía!! Você deveria ser a guardiã da moral desta casa e veja o que aconteceu. Eu me sinto traído por vocês duas... Vou castrar o filho da p*... que esculhambou a honra da minha família! Onde já se viu!? Cedo a mão da moça e esse pilantra me usa o corpo todo... Mulher, fala sem gaguejar... E agora o que as pessoas vão dizer? Somente a verdade. Que a filha saiu igual à laia da mãe... Não me vem com esta. Pára de soluçar! Deixa que eu... Droga! - A ligação caíra. Aflito mergulhou na porta giratória lançando-se ao estacionamento, na tentativa de recuperar o que a filha houvera perdido.

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