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quarta-feira, 11 de maio de 2011

ECOS URBANOS ============


Então depois de muito matutar, veio-lhe o surto da bendita inspiração. Frases inteiras. Outro parágrafo. A estória propriamente dita... Cofiava os cabelos desgrenhados. A cada idéia que acudia seus pensamentos quedava-se silente, naquela batalha interior sem testemunhas... A quem aquilo teria relevância? A que coração falaria?
Rabiscou sobre a torta caligrafia. Escrever sem pretensões repetindo Kafka?... Quanta pretensão! Tampouco palavras sem ouvidos têm voz. Atrever-se a transformar o mundo, este paradigma de T. S. Eliot e tanto mais...
Olhava em torno avaliando a inutilidade das coisas abjetas. Nas paredes as contas no prego, uma foto feliz do amor sob concordata, os dias idos do calendário. Sua coleção de discos, a confusão de livros e papéis amontoados pela escrivaninha. A existência tranquila em lugarejos bucólicos no caderno de turismo do jornal... Por fim emaranhou o papel numa bola disforme.
Vagava pelos cômodos abraçado à garrafa, salva-vidas daquele naufrágio pessoal. Nenhuma preocupação para consigo. O cheiro acre tornava a natureza agradável, permitindo longas divagações a respeito da êfemera biologia das moscas... Seu corpo vestia personagens dos quais ele pretendia se despir. Para que fossem viver nos leitores suas ángustias, vitórias, um drama sublime. Era todo alimento que saciava seu espírito. Mas, que o estômago rechaçava veemente...
Através do vitrô do banheiro advêm os ecos urbanos nas primeiras horas. Despertou com a réstia do sol contra o rosto curando-o da embriaguez. Entre uma diarréia e o vômito enchia páginas de intensa Literatura.

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