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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

CIDA ERA O NOME DELA =====

Numa cidade esquecida nos rincões deste país, uma mulher que enviuvara recentemente estava prestes a dar à luz. Embora, o fato de tornar-se mãe não a transformou como deveria.
Tempos depois que as gêmeas nasceram a mãe destas muito cansada dos afazeres resolveu adotar uma menina de rua como afilhada para ajudá-la nos serviços da casa. Cida era o nome dela.
Isso no começo, porque depois passou a obrigá-la fazer todas as tarefas sozinha. E quando Cida quebrava alguma xícara, ou não limpava o chão direito sofria os mais odiosos maltratos. Entre eles: apagar cigarros em sua pele, amarrá-la nua num quarto escuro.
As obrigações eram tantas que ela mal tinha tempo para se cuidar, por isso vivia de roupas puídas, os cabelos desgrenhados e não ia à escola como as "irmãs". Tinha os dedos furados pela agulha de tanto remendar as calças das gêmeas, as quais não davam a mínima pra ela.
Cida apesar dos pesares possuía um coração de ouro. Enquanto a megera perseguia os gatos que rondavam o muro, ela os alimentava às escondidas. Durante a dura faina cantarolava os sucessos das paradas pra espantar o cansaço.
Certa manhã em que mãe e filhas tomavam café souberam pelo rádio da realização do 'Grande Baile Anual de Máscaras', prestigiado pelas famílias bem sucedidas da sociedade. Um alvoroço irritante se instalou entre as gêmeas naquela semana. No seu íntimo Cida gostaria de participar, mas manteve-se quieta. A verdade é que ficou tentada, afinal não se divertia nunca.
Enfim chegou o dia tão esperado. Pela tarde as irmãs se preparam e fazem planos para a noite festiva. Tendo trabalhado a madrugada daquele dia em silêncio, Cida dava os últimos retoques na limpeza. Ao perceber as intenções da moça, a viúva tratou de impedir a filha adotiva:
- Cidaaa! - Esbravejou para em seguida indicar maquiavélica. - Faça-me o favor e dê brilho na minha baixela de prata, senão...
Desapontada a jovem deixou escapar baixinho um palavrão daqueles e às pressas lustrou toda peça de jantar com seu cuspo raivoso.
Escondida ela se aprontou para o baile. Ajeitou-se num velho vestido que guardara, penteou as longas tranças. Mas de tão exausta e hipnotizada pela sua imagem no espelho, adormeceu. Não faria mal algum cochilar até a hora de tomar o ônibus para a festa. Ficaria mais disposta...
O Casarão Municipal era deslumbrante e estava lindamente iluminado, fazendo reluzir as bijouterias nos pescoços das senhoras. Os pares pareciam flutuar enquanto dançavam, deslizantes pelos desenhos no mármore do piso.
Ágeis garçons equilibravam, entre os casais, bandejas de bengalinhas açucaradas, amontoados de croquetes, filas de gordos brigadeiros e taças de borbulhantes refrigerantes. Um lindo rapaz ofereceu-lhe sortidas maçanetas carameladas deliciosas. E sorria! Adorava... Maçanetas Carameladas!?
De repente despertou com o baque da porta... Dormira agarrada ao pé de sapato. Olhou o relógio, os ponteiros passavam um pouquinho da meia-noite. A família retornava da festa com grande alarido. As gêmeas suspirantes pelos rapazes, a viúva exausta de tanto dançar.
   

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