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segunda-feira, 14 de junho de 2010

INOCÊNCIA CAPRICHOSA =====

- Não sei por que tu veio bater aqui... - Foi a recebida recepção de boas-vindas na escadaria do cortiço. Já desconfiava... Dezoito anos mofando no presídio fazia dele um estranho.
- Velhas mágoas, cunhada... Você vive demais do passado. - Acrescentou ele, desvencilhando-se ao subir alguns degraus.
- Tem lugar pra você não. Quando minha irmã era viva até podia ser.
- Se esquece que meu tio é dono disso aqui?... Eu já tô. - Volveu do topo da escada, não deixou de reparar na jovem às costas dela. - É cria tua?
- Que te interessa!... A tua tu deu pra outro criar.
E se instalou na antiga despensa. Logo a moça atraiu-se pelo desconhecido. Sobre quem a mulher mantinha silêncio, o cenho franzido. Conversava horas trepada no corrimão, divertindo insinuante o novo inquilino. Lera numa revista o caso de certa garota que namorara um homem bem mais velho. Fazia prosa duma suposta maturidade. No modo atrevido de ajeitar o penteado pondo a nuca a descoberto. Fazendo-se confidente dele, cujas melhores intenções divagavam naquela visão estonteante.
"Taí... Um bom-bocado de lamber os beiços! Apetitosamente virgem..." - Quase sempre interrompidas pelo aparecimento da cunhada.
- Rapa, moleca! - Então abordava-o. - Pensa que com esses olhos sonsos tu engana alguém... Vai, perdeu a noção do perigo? - Ameaçava ela deixando transparecer o revólver sob a roupa, com o qual defendia sua posição no bordel.
- Ela não tem o teu jeito. Puxou nada dessa tua laia.
- Não é pro teu bico... Nem pense desgraçá a vida de outra.
- Ciumêra besta, Graça.
- Ciúme de um ladrão de bosta?
- Eu que num tou nem aí pruma cafetina de puta pobre!
- Se assanha pra ver.
- Vai que eu possa pagar...
Retornando numa madrugada, Graça estranhou a menina não estar no quarto. No fim do corredor percebeu a luz acesa, uns rumores vindos da despensa. Temeu cada passo... Ao abrir a porta do cômodo viu o cunhado entre as pernas da ninfeta. Ele recuou. A jovem cobriu-se como podia atrás do travesseiro.
- Essa é tua filha, maldito! Teu sangue! Teu sangue!! - Berrava descarregando a arma no peito dele.  

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