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terça-feira, 13 de julho de 2010

DRIBLAR A VIDA ==========

Últimos minutos do segundo tempo da partida. Seu time perdia 0 X 1 no placar. A vida também andava péssima. Aluguel por vencer, brigara com a companheira, sem emprego. Maldizia a maré de constantes infortúnios. Herança de família, bem capaz!
"- Alça pra grande área, tira dali a zaga adversária na retranca... Instantes finais dramáticos, Torcedor!!" - O locutor carregava nas tintas. A chiadeira dele e do rádio era geral. Nem no futebol merecia sorrir. Aliás, supunha milhares feito ele. Em algum momento, como na marca do penalty. Coração contido, num único compasso. E não fora sempre assim...
"- Recupera Luís Pereira, solta pra Da Guia... Domina na meia-cancha, ajeitou a pelota. Liga com o ataque..."
Era torcer que na Segunda-feira houvesse alguma vaga disponível. Já não escolhia mais, qualquer colocação vinha de bom tamanho.
"- Carrega Pelé, pára, gira, protege... Tabela com Edu pela ponta. Recebe combate, sai pela linha lateral... O tempo passa meu, meu povo!"
A esposa naquela marcação cerrrada culpava-o ante a ameaça de ter os cacarecos jogados na calçada.
"- Insiste com Muller, passa por um... Enfia no alto pra Careca que mata no peito, amortece a gorducha no gramado. Levanta a cabeça, inverte a jogada..."
A que santo pedir? Nenhum dera-lhe ouvidos. Por certo fossem apenas estatuetas de gesso.
"Pode ser agora, esta é a hora..." - De repente, ele sentiu o cheiro no ar. Fez sua derradeira promessa.
- Eia, meu São Jorge!...
"- Se manda Wladimir, toca com Zenon que devolve de prima. O lateral faz o breque, viu Sócrates livre... O camisa 8 recebe, finta o zagueiro, bateu por cobertura... É Gol! Goooll!!" - Não conteve-se, esmurrou o ar naquele brado forte. "- Do Corinthians! E que golaço!! Tá na rede, Torcedor. Quando já eram passados 45 da etapa complementar. E agora goleiro vá buscar... No fundo do barbante. Explode a galera e as bandeiras estão tremulando no estádio..."
Do círculo central, braços erguidos o árbitro apita fim de jogo. Menos pior. Chutava a zica pra longe. Desta feita a sorte não foi tão má com ele.

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