# BLOG LITERÁRIO # POEMAS - CONTOS - CRÔNICAS #

segunda-feira, 5 de julho de 2010

MALÉVOLO ================

Por que sussurrava insistente ao ouvido aquilo que deveria executar? Ele bem saberia agir sozinho. Entretanto, viviam sempre juntos, o tal azucrinava-lhe:
"- Olha que dona tesuda!! Se ela te conhecesse melhor, talvez soubesse o quanto tuas mãos são carinhosas... Chega lá, conversa. Esta indiferença fingida é puro charme..." - A timidez dele fazia da proximidade qualquer coisa  intransponível. Sequer notavam sua presença. "- Estou dizendo, rapaz. Um mundo de fantasia emaranha-se naqueles cabelos. Acredite... Você será o estopim prestes a detonar a fúria sensual por baixo daquele vestido."
Durante a juventude o sujeito até parecia um cara bacana. Dialogavam horas seguidas trocando confidências. Apesar de toda paixão pelo sexo feminino, quase não tivera namoradas... Mais tarde revelou tamanha ira pelas mulheres. Puritanas de fachada, meretrizes na intimidade!
E isto punha-lhe em pânico. Inúmeras vezes caminhando na praça ou num clube, ele aparecia do nada. Pronto a tomar conta da situação. Então, o seguia oculto e Ele seguro de si enredava a presa.
Aquele estrebuchar da vítima excitava-o. Ao dominá-la lambia-lhe as lágrimas, tapava seus gritos com beijos. Enchendo-se de ternura ante a fragilidade dos seios sôfregos... Estranhamente os dedos crispavam tornando a carícia um gesto rude. Era o que todas mereciam! Sob o eclipse da penumbra seu espectro incutia o ódio sádico tendo terminado:
"- Essa jamais vai te querer de novo. Idiota!... Ela já tem dono. Você é apenas outro mais... As vadias se repetem tanto." - Daí sugeria malévolo. "- Mas, pode ficar com algo dela. Uma lembrança... O coração!"
Assim que acordou, percebeu haver acontecido. Debruçada na relva e o corpo nu exangue, o outro perverso trucidara a moça... Ou fora ele próprio, seguindo a voz da sua mentalidade.

Nenhum comentário: