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segunda-feira, 18 de abril de 2011

GÓLGOTA DE PAIXÕES ======


Não o que nos entra pela boca, sobretudo aquilo saído dos nossos corações que é impuro. Pois o pecado não está fora de nós, todavia o que vai por dentro viceja o mal nos ofendidos corpos daqueles que assim querem se martirizar. Senão for na carne onde estaria a realização do espírito sem seu templo sagrado? Como crucificar a carne e suas paixões mundanas sem padecer os dissabores o espírito? Sendo esta a verdadeira dívida de um para com o outro...
Um tamanho embaraço no qual Reverendo Amaro via sua frágil alma sucumbir. Não pensar, nunca tocar, nem provar, eram as severidades aprendidas. Esconjuros que nada impedem os propósitos da carne. Faltava-lhe domínio próprio ardia em desejos...
Celeste encarnava toda essa angústia presente. Cabelos trançados envoltos na nuca, o terço sobre o regaço palpitante dos seios. Gólgota de luxúria em que temia ferir suas mãos. Deus talvez sentira êxtase igual ao moldar a sinuosa silhueta das formas de Eva.
Fiel ao culto lá estava ela, relíquia viva na nave. Lábios carnudos murmurando preces por sua danação. A língua esguia à espera da hóstia, ávida pelo corpo ázimo de Cristo. Há muito olhares furtivos durante a missa, guloseimas constantes e mimos entregues na sacristia consistiam numa declaração velada. Ao buscar proteção no esplendor da Virgem era como se a visse no altar da santa, desnuda sob o manto.
Chegou o momento da confissão... Palavra alguma. Os suspiros dela através do postigo no confessionário foi a resposta ouvida. Enlaçou-a com a estola rendendo-se aquele corpo bronzeado, vestido do sol púrpuro. Cuja boca era uma taça que despejava beijos de fogo.
Como também o verbo fez-se matéria, não haveríamos nós de vivenciar as agruras do espírito? Porventura, somos o cordeiro imolado sem defeito ou nódoas...?

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