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segunda-feira, 4 de abril de 2011

SÓ QUERO UM XODÓ ========

Quanta afeição ele tinha pela égua Xodó. Foi ela quem o iniciou nos prazeres sexuais. As namoradas na hora agá desfaziam dele, ofendendo-se ao ver aquilo avantajado que a natureza o privilegiara.
- Cabra, valei-me! Tu é um jerico de marca maior. Nem se achegue!! - Quanto mais conhecia as mulheres, mais amava Xodó. Dócil como nenhuma dama conseguira e sabia guardar segredos. Melhor, e olhe lá, só a mula ensinada de Gonzagão. Mesmo assim, não vendia, não trocava e nem dava.
Qual não foi sua preocupação quando descobriu que a égua lhe daria um potro...
"Eita, meu São Francisco!... Será que Xodó tá prenha duma cria minha?" - Matutava casmurro conduzindo a charrete. - "Hoje em dia, é tanta novidade por causa dessa tal genética. Involução dos bichos... É capaz, metade menino e a outra... Fiduaégua!" - Benzeu-se pedindo ao santo valença. Espairecia numa cantoria que aprendera na feira:
"Pegava as orelhas dela
 Beijava e balançava;
 Dava água, dava banho
 Também não lhe maltratava.

 A jumenta abria a boca
 E ele a dele também
 Como um casal que vivia
 Assim se querendo bem..."

Também não descartou a hipótese dela haver lhe traído, espiando com desconfiança os pangarés e moleques no capinzal. Coçava a calva amofinado, talvez estivesse vendo chifres em cabeça de cavalo, ela não se engraçava com qualquer sujeito.
Sucedeu então, o dia do parto. O dono notou que a égua gerara um animal robusto. Xodó agonizava impaciente, a cria dava trabalho. Aturdido veio-lhe a visagem da besta-fera choutando pelo pasto. Inté mesmo os relinchos de um alãozinho bastardo.
Seus camaradas às pressas chamaram o veterinário que prontamente diagnosticou. A posição do filhote era anormal, apesar das tentativas em ajeitá-lo e sugerindo o sacrifício. Ele consentiu resignado e debruçou-se junto à égua confessando:
- Que deus perdoe o teu e os meus pecados, bichinha!

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