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segunda-feira, 20 de junho de 2011

O DESBASTE DA SERRA ELÉTRICA =====

A rotina dele era aquela, cuidar da família. Zelar pelos bens que mais tarde a esposa usurparia, conforme a cláusula do contrato de casamento especificava.
Feitosa sempre fora um tanto acabrunhado, sem jeito com as mulheres. Feio até. E foi na cama duma estreaper, agora conjugue de papel passado, que sentiu-se aceito. Por isso mesmo devotado escravo daquele matrimônio incomum. Ela passional ao extremo exercia a autoridade com mão-de-ferro.
Ele comumente saía às pressas do trabalho, precisava tomar conta dos filhos para que a mulher desse expediente numa boate. Não tomava decisões sem a sua expressa autorização. A tudo servil tornou-se adepto da causa feminista. Num temor por tudo em desagradar a mulher.
Feriadão!... Decidiram ir ao sítio da família. A idéia não fora de toda má, ele estava mesmo relaxando, as crianças em contato com a natureza, a esposa um tanto satisfeita... As instalações da granja necessitavam de alguns reparos e aproveitou a ocasião para fazê-los.
O som cortante da serra elétrica ecoou sobre a copa das quaresmeiras, ocultando o chamado dos tiês, o pipilar festivo das saíras. Mas, havia habitat natural que desestressasse a fera?... Porque ainda que com todas as tentativas de agrado, ela só abria a boca para reclamar.
- Tá pensando que é meu cafetão? Nossa senhora sabe quanto suei pra conseguir este sítio...
- E foi sozinha?...
- Não me contraria, porra! Sei o que tô pedindo. Que bosta é tu? - Tinha ela as garras afiadas e unhadas lanhavam-lhe o rosto.
Querendo vingança Feitosa saiu atrás da ingrata empunhando ameaçadoramente a serra elétrica. Esquivando-se de ser cortada ela corre aos gritos. Tomba a touceira de brejaúva inocente, um frondoso manacá deita barulhento entre a vegetação, estava prestes a cometer um crime ambiental quando... O longo cabo da extensão elétrica que utilizava soltou-se da tomada, desligando a máquina.
Não tinha jeito, ela desceu-lhe o cacete, sempre levava a pior.

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